terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O melhor do mundo

Não há nada como uma criança para fazer da noite de Natal uma verdadeira noite feliz.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - VI

LITTLE MISS SUNSHINE (Jonathan Dayton, Valerie Faris, Michael Arndt)

Comédia hilariante que conta tão só a aventura de uma família cheia de elementos peculiares a percorrer os States para levar a personagem cinematográfica mais "fofa" dos últimos anos a um concurso de beleza. Cinco estrelas.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Sou História


Não posso deixar de sentir saudosismo ao ver a alegria de tantos cidadãos de países habituados a serem relegados para a diminuidora categoria de "países do leste" que agora podem passear-se pela Europa sem passar pelo transtorno da identificação do passaporte, devido ao alargamernto do espaço Schengen. Quando ouvimos dizer "agora pode-se ir de Portugal à Estónia sem parar em nenhuma fronteira" estamos a presenciar um pensamento contrário ao que realmente existe. São eles que agora podem vir da Estónia até Portugal, porque do nosso lado já há muitos anos que andamos por onde queremos, inclusive pelo leste da Europa. Falo por mim, que ao passar da Alemanha para a Polónia, testemunhei vários colegas meus, a pedir que lhes carimbassem o passaporte. É obvio que não era necessário carimbo nenhum, bastava os guardas darem uma rápida vista de olhos, e entrávamos sem problemas em solo polaco. Na altura não pedi carimbo nenhum, até porque, para além de ser uma lamechice pegada, me parecia ser uma falta de respeito para com os guardas, que ali seriamente faziam o seu trabalho. Aos olhos daqueles polacos não passávamos de uma cambada de putos mimalhos da Europa ocidental, interessados em passar a fronteira apenas para ir comprar dezenas de pacotes de tabaco Marlboro ao preço da chuva. Eu não fui comprar tabaco, mas tenho consciência de que fui pelo gosto que me deu sentir-me, pela primeira vez, num "país de leste".

As diferenças eram abismais. Vindos de uma cidade alemã limpa, organizada e iluminada (Görlitz), e cruzando apenas uma ponte sobre um rio, deparámo-nos com ruas sujas, carros velhos e podres, casas com anúncios pintados a tinta nas paredes numa língua incompreensível.

Muitos meses mais tarde, a experiência repetiu-se. Numa viagem pela Letónia, Lituânia e Polónia, ao chegar a cada fronteira, principalmente a meio da noite, sentia qualquer coisa simbólica, mística, que me transportava para uma História que não vivi. Lembrava-me dos aparentes contos fictícios contados pelos meus pais e avós sobre idas a Espanha, e em cujos regressos vinham cheios de produtos clandestinos escondidos em todos os espaços possíveis que houvessem no carro onde viajavam. Eu não precisava de esconder nada, mas sem dúvida o medo das histórias dos meus pais e avós tomava conta de mim quando aqueles guardas tão sérios e autoritários nos pediam passaportes para levá-los e fazer sabe-se lá bem o quê com eles, durante uns 20 minutos. O meu medo era místico. O das pessoas da terra não era. Aquela gente, que provavelmente cruzava as fronteiras com bastante frequência, via o controlo dos passaportes como uma rotina aborrecida e perigosa.

Esta rotina, a que assisti ainda na viagem para a República Checa e para a Hungria, acabou esta semana para milhões de pessoas. Fico feliz e imagino o alívio daqueles cidadãos em destruirem de vez a cortina de ferro que ainda os fazia permanecer no passado obscuro que querem eliminar. No entanto, também me senti feliz nos momentos que passei por aquelas terras, principalmente pelo romantismo e pelo misticismo de não poder viajar em auto-estradas porque não existiam, nem meios de transporte confortáveis; de não me fazer entender em língua nenhuma; de ficar especado sem dinheiro no meio de um campo lituano à responsabilidade de um condutor de autocarro reticente em aceitar que o veículo estava a arder. Marcas de uma Europa que está a desaparecer, e que os que virão depois de mim só conhecerão ao ler nos livros ou ao ouvir contos fictícios narrados por pessoas como eu.


Foto: Cracóvia, 9 de Junho de 2006 (dia em que completei 21 anos)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Sobre a mania de querermos ser imprescindíveis

O funcionário imprescindível
De um funcionário que já estava há bastante tempo numa repartição ouviu o senhor K. dizer, no meio de grandes elogios, que era imprescindível, de tão bom funcionário que era. "Como é isso de ele ser imprescindível?" perguntou o senhor K. irritado. "Sem ele os serviços deixavam de funcionar", diziam os seus louvadores. "Então como é que ele pode ser assim um funcionário tão bom se o serviço sem ele deixava de funcionar?" disse o senhor K. "Teve mais que tempo para organizar o serviço de maneira a ser prescindível. Em que é que ele se ocupa afinal? Digo-vos eu: a chantagear!"
in Histórias do senhor Kreuner, Bertolt Brecht

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Morte à ortodontia

Não consigo pensar. Não consigo concentrar-me. Só quero arrancar os mil ferrinhos que repentinamente têm que fazer parte da minha boca.

AARRGGHH!!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Barcelos é grandji


"Barcelos foi fundada em 1775 pelos portugueses que em vários locais da Amazônia reproduziam os nomes de cidades da metrópole (Bélem, Santarém, Óbidos ...). Barcelos é hoje a sede de um município cuja a área é superior a de Portugal. Barcelos (AM) é também o porto onde se negociam, há séculos, os produtos do extrativismo que sustentam as populações ribeirinhas dos rio Demene e Negro. "


terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A propos

João Miguel Tavares também tem hoje no DN alguma coisa a dizer sobre as nossas criancinhas.

O raça da canalha

Estas crianças e adolescentes pós-modernos estão a dar-me cabo dos nervos. São putos que se riem de quem acredita no Pai Natal ou se senta em frente a um ecrã para ver a Branca de Neve. Recusam-se a ter um sonho mais alto do que chegar ao horário vespertino da televisão como actores e ter sucesso, ou então seguirem o curso de Direito porque é o único "interessante" mas saber de antemão que vão morrer de fome. É isto o que vejo, é esta a nova geração. Gente pouco interessada em aprender, mas em tirar boas notas. Pouco disposta a ler, mas sempre pronta a sacar resumos da net. Gente que troça de quem sonha e imagina, gente que só vê números, objectividade, música, roupa, iPods e PSPs. Autómatos, seres todos iguais, reproduzidos nas escolas até à exaustão.

Sinto-me o típico cota que augura sempre o pior futuro para as gerações vindouras, mas esta é a realidade com que lido. Pode ser que aprenda a ser mais tolerante, mas como? Tenho alunos de 12 anos que veneram o filme High School Musical (ver vídeo acima) e os Tokio Hotel. OK. Perfeitamente normal para a idade. No entanto, o único comentário que produzem ao filme "Nightmare before Christmas" é um indiferente e superior: "Professor, se nos quer dar desenhos animados, ao menos que não sejam de plasticina..."

Haja tolerância para isto!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - V

“New York is where everyone comes to be forgiven”

Porque é que SHORTBUS não é um filme pornográfico?
Entendo a pornografia como um escape. Uma não realidade que se disfarça dela, e por isso é tão abertamente condenada quanto apreciada. A pornografia serve como estimulante sexual, como objecto de voyeurismo, como entretenimento. Não tenciona fazer pensar, mas também não nos incomoda, porque sabemos, ao vê-la, que não tem nada a ver connosco. Que é uma encenação, na maior parte das vezes sem sentido, sem verosimilhança, sem grandes preocupações técnicas. Em suma, a pornografia é perfeitamente desmerecedora da importância que lhe damos, como elemento nefasto das sociedades, como signo da exploração do corpo feminino, etc. É uma mera fantasia desprovida de realismo, e, por isso, tão apelativa quanto irrelevante.
Dizer que SHORTBUS é um filme pornográfico é reduzir o filme às cenas sexuais que nele são apresentadas, de facto, sem qualquer tipo de censura. É destacar o nosso preconceito e a nossa formatação anti-pornografia para a fila da frente da nossa capacidade crítica, fazendo aquilo que a própria pornografia nos ensinou a fazer: a sentir que devemos rejeitar qualquer cena estritamente sexual do nosso dia-a-dia racional, e mantê-las fechadas a sete chaves nesse submundo a que todos inevitavelmente pertencemos, mas ao qual não podemos admitir (gostar de) pertencer.
Este filme, realizado pelo jovem John Cameron Mitchell, é, para mim, um paradigma daquilo em que o cinema acabará por se tornar – um espelho cada vez mais fiel daquilo que somos. Não sou adivinho, nem percebo de cinema como para fazer uma afirmação deste género, mas aquilo que SHORTBUS me provou é que é possível transpor para o cinema o sexo real, aquele que praticamos no dia-a-dia, aquele que é de facto inato ao ser humano... aquele que a pornografia não apresenta. SHORTBUS mostra o sexo como metáfora, como uma expressão daquilo que de facto nos move, dos sentimentos, das relações afectivas, dos problemas guardados no secretismo da consciência solitária que existe em todos nós. O sexo ligado às emoções, às acções e às reacções quotidianas e, por isso, parte natural da vida humana, o sexo como manifestação física das nossas frustrações, felicidades, dúvidas, medos, tranquilidades. E uso o plural de forma propositada, porque em SHORTBUS a chave é precisamente o carácter plural na abordagem das personagens. Ou seja, não há uma centralização numa personagem apenas, mas sim num conjunto de pessoas que descobrem um caminho a seguir na tentativa de solucionar o problema que têm. E cada um tem um problema diferente, como cada um de nós.
SHORTBUS ousa olhar-nos de frente, expondo vidas de pessoas a partir das situações mais íntimas, mais privadas, mais escondidas, mais individuais em que temos o direito de nos encontrar. No início do filme, o mais perturbador é o grafismo nu e cru das cenas sexuais. No fim, a sensação incómoda advém do facto de nos vermos retratados num ecrã de cinema, despidos em frente a ele, na intimidade que até agora não permitíamos ao cinema roubar-nos. Uma intimidade verdadeira, em que a pornografia não se atreve a entrar. Uma intimidade verosímil, possível, sem as conversas trabalhadas, pseudo-realistas ou românticas de que qualquer filme acaba sempre por ser feito.
Este panorama, adornado pelo toque humorístico, pela incrível cumplicidade do elenco e pela banda sonora (verdadeiramente original) fazem deste filme, como alguém já disse, um “ovni” na sétima arte estreada em 2007. E não tenho dúvidas de que é um risco e um arrojo propor o visionamento de SHORTBUS a toda a gente. Eu próprio fui forçado a rever a minha tolerância e o meu espírito crítico por causa deste filme. Mas atrevo-me, e escrevo a célebre expressão: aconselho vivamente.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Diz que é uma espécie de queixa


De acordo com o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, um estágio é: um período de trabalho por tempo determinado para formação e aprendizagem de uma prática profissional.


O que falta na entrada é tão somente isto:


Tempo de aproveitamento louco e indigno do ser que estagia; período de tempo em que o ser que estagia lida com um grande número de pessoas insensíveis ao facto de que são muitas, e que, devido ao facto de trabalharem todas de maneira independente, obrigam o ser estagiário a ter que cumprir muitas diligências ao mesmo tempo; período de tempo em que o facto de muitas diligências não conseguirem ser cumpridas ao mesmo tempo resulta indubitavelmente da incompetência do ser estagiário; período de tempo em que mil acções, bem como os mil pensamentos que lhes sucedem devem ser feitos na mesma fracção de segundo, sendo que o contrário indica falta de maturidade, interesse ou organização; período de tempo em que o ser estagiário é relembrado de que não passa de um ser estagiário, e logo, não merece o mesmo trato que o ser já não estagiário; período de tempo em que o ser estagiário é chamado a provar que não merece ser tratado como ser estagiário, através de trabalho contínuo e imparável...[e assim sucessivamente, voltando ao início deste parágrafo e continuando]

domingo, 9 de dezembro de 2007

"Quien no ha visto Graná, no ha visto ná"


Eu já vi. Há um ano atrás. E fui conquistado.
Título: ditado andaluz

sábado, 8 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - IV

EL LABERINTO DEL FAUNO

Guillermo del Toro assina uma das produções mais fascinantes dos últimos anos. Fascinante porque mostra aquilo a que vulgarmente chamamos de imaginação, como se de uma antiga tradição (ou mesmo um mito!) se tratasse, como uma realidade objectiva ao alcance de todos nós. Irónico? Contraditório? Talvez. Mas não será a imaginação uma ironia? Se não, porque é que somos chamados a viver, e, ao mesmo tempo, a necessitar de viver outros mundos dentro das nossas cabeças?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - III

Cara Gabriela Mistral, "As vidas dos Outros" mereceria sem dúvida ser o filme número um... se o tivesse visto pela primeira vez este ano. Vi o filme ainda em Leipzig, em Março de 2006 (se não estou em erro), e só por isso é que não o incluí aqui. Muito a propósito, o terceiro filme desta rubrica é também alemão, e é protagonizado também por Ulrich Mühe, actor que dá vida a Gerd Wiesler (agente que vigia a dupla amorosa em "A Vida dos Outros"). Para choque de todos, o actor faleceu este Verão na Alemanha, vítima de um cancro no estômago.
Em "Mein Führer" veste a pele de um judeu a quem Hitler pede ajuda para o recuperar da depressão em que se encontra por ver o país a ser devastado, e ao qual incumbe a tarefa de escrever o famoso discurso de Janeiro de 1945, em que Hitler surgiu proclamando a força inquestionável do Reich, apesar de o país estar praticamente vencido.
A comédia suscitou alguma polémica na Alemanha, como já se esperava. A experiência de ver este filme numa sala de cinema em Leipzig (em Fevereiro deste ano) foi extremamente oportuna. Na própria sessão a que eu fui, assisti a pessoas a morrerem de riso, outras a protestarem, e outras simplesmente pasmando, com certeza questionando: "Já é suposto eu rir-me disto? Ou ainda é muito cedo?"
"Mein Führer - A mais verdadeira das verdades sobre Adolf Hitler" é uma provocação imperdível, e que espero ainda poder ver estrear nas nossas salas.
Peço desculpa pelo trailer sem legendas, mas foi o único que encontrei.

Coisas que um professor deve saber

"É sempre mau perguntar, porque pode haver resposta."

Álvaro de Campos in Aviso por causa da moral, Fernando Pessoa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Presunção

Será que todas aquelas pessoas aos saltos e de mãos no ar têm noção de que as palavras alemãs que tentam trautear nesta música exprimem um dos poemas mais belos e comovedores que os Rammstein já escreveram?

Chamem-me louco, mas arrepio-me de cada vez que ouço isto.

Ver tradução para inglês (que não me satisfaz absolutamente nada, mas é a mais fiável,ainda assim) aqui:

http://herzeleid.com/en/lyrics/reise_reise/morgenstern

Os meus filmes do ano - II

SOPHIE SCHOLL - os últimos dias

O filme é de 2005, apesar de o ter visto pela primeira vez este ano. Sophie Scholl é uma das heroinas alemãs do século XX, tendo pertencido ao movimento "Rosa branca" ("Weisse Rose"), formado em 1942, que se insurgiu contra o regime do Terceiro Reich. A minha homenagem dirige-se mais especificamente à própria Sophie Scholl do que ao filme que retrata os seus últimos dias, em que ela e o irmão são capturados quando tentam lançar folhetos anti-nazis na Universidade de Munique, acabando por ser condenados à morte.
A força incrível da jovem, tão bem revivida por Julia Jentsch, é simplemente impressionante. Grande parte do filme centra-se nos interrogatórios feitos a Sophie por funcionários nazis, e são baseados em transcrições dos interrogatórios originais. A resistência mostrada por Sophie é extenuante, e deixa-nos em pulgas por um final vitorioso, que de antemão sabemos não ter existido.
É justa a homenagem a Sophie Scholl, e é dolorosa a sensação de que a jovem é a única que vê a situação do seu país com os mesmos olhos com que nós vemos agora todo o fenómeno do nazismo. Uma solitária, que em conjunto com os pares do seu movimento, tenta abrir os olhos a um país convencido de que o clima de terror e guerra é uma consequência natural do seu poder nato, e logo, aceitável.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - I

Pela prestação soberba do elenco, pelo despretensiosismo, pelo incómodo, pela banda sonora, pelo título, pelo que cresci ao ver este filme.

"A vida secreta das palavras" (de Isabel Coixet)foi provavelmente o filme que mais me marcou em 2007.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A felicidade absoluta

Peter Licht é um ovni na música pop alemã. As letras que canta reduzem-se à expressão de mensagens tão inúteis quanto perturbadoramente do tipo "não te largo mais a cabeça a partir do momento em que me ouves, porque no fundo estou a dizer-te alguma coisa". Esta chama-se "Das absolute Glück", e resume-se à descrição da felicidade absoluta do rapaz se fosse o último a habitar a terra. Há algo neste vídeo que me prende, talvez as ruas de Berlim totalmente vazias a fazerem-me lembrar as ruas de Leipzig, ou a melancolia da voz do cantor. De qualquer forma, é uma das canções que me tem acompanhado nestes tempos atarefados, e que me impedem de escrever mais vezes.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sweeney Todd

A época natalícia está a chegar(e chega cada vez mais cedo, qualquer dia temos anúncios da Leopoldina - ou da Popota - nas barracas da praia). E à parte o tédio habitual que nos impingem com a publicidade de tudo e mais alguma coisa, há sempre prendas que se esperam com mais ansiedade, como o novo filme de Tim Burton!

:)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Já só nos resta o tédio?


"Só mesmo o facto de a nossa capacidade de indignação já estar meio sedada é que pode justificar que as novas suspeitas sobre abusos sexuais entre alunos na Casa Pia possam ser escutadas com este sentimento de tédio, que só será levantado se mais um nome bombástico cair na sopa. Mas convém passar água fria pela cara e fazer as perguntas indispensáveis a quem governa aquela casa e a quem nos governa a nós: Como é possível? Como podem ainda existir funcionários da Casa Pia a angariar miúdos para encontros sexuais? Será que nada de significativo mudou na instituição depois de tudo o que se passou?"


João Miguel Tavares, DN, 20/11/07

Nightswimming

Aroma a chá na boca, um incontável número de folhas rabiscadas na frente, vazias de ideias cheias de ambição e derrotismo. Televisão palrando vozes em inglês, dores crónicas de costas, luz pouco cooperante na luta pelo resultado que não chega. Desejos de fugir, de recolher a chuva lá fora, de colher em cada gota uma palavra, de entrar em cada uma com uma braçada. Um piano, uma voz, um momento de felicidade na infelicidade insatisfeita desta noite que é o dia-a-dia.

sábado, 17 de novembro de 2007

A globalização dos conflitos ou O flipanço total dos espanhóis

Conta-me uma amiga espanhola, a propósito do incidente "porque não te calas?" entre Juan Carlos e Chávez, que se anda a falar muito de Portugal em Espanha. Parece que os nossos vizinhos estão convencidos de que Chávez vai quebrar as relações comerciais com Espanha, substituindo-as por transacções com Portugal. Desta maneira, Portugal e Venezuela aproximam-se, sendo Espanha o inimigo comum...
3ª feira Chávez vem a Portugal falar com Sócrates. Se calhar vem assinar uma Aliança qualquer de guerra, e nós não sabemos.

domingo, 11 de novembro de 2007

Porque a censura é coisa feia

E porque um vídeo para uma música é coisa artística e que dá trabalho, partilho aqui a versão não censurada de "Mein Teil", dos Rammstein, tema inspirado no célebre caso de um alemão que pôs um anúncio na net perguntando se alguém gostaria de ser comido. Alguém acedeu. É mais chocante a verdade ou a reprodução trocista dela? Aconselho o visionamento até ao fim.

E viva Rammstein!

O (des)acordo mais importante


O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um daqueles nomes pomposos que pouca gente sabe exactamente o que é e para que serve, mas que todos tomamos como garantido de que existe e que rege a maneira como escrevemos a nossa língua. A verdade é que não é assim. Até agora, a situação foi basicamente esta: cada país luso-falante adopta o acordo ortográfico que bem lhe apetece, de todos aqueles que já foram ratificados. Por um lado, não se entende porque é que são ratificados novos acordos quando os anteriores não foram aceites por toda a comunidade luso-falante; por outro lado, parece que este é um problema menor, a língua sendo usada como arma de arremesso, principalmente entre Portugal e o Brasil.

No Chile, durante a Cimeira Ibero-Americana, Sócrates apressou-se a destacar que não há em Portugal um sentimento de inferioridade em relação a Espanha. Se aqui Portugal significa "os Portugueses" não tenho bem a mesma impressão do senhor Primeiro-Ministro. Há uma tendência errada do português para ver em Espanha a sua salvação, mesmo que quando questionado sobre o velho tema do iberismo o seu nacionalismo absoluto venha automaticamente ao de cima. No entanto, isto prender-se-á mais com o legado do Dr. Salazar neste recanto ibérico.

Volto à questão da língua, onde me parece que a inferioridade em relação a Espanha é notoriamente visível. Espanhóis, mexicanos, cubanos, argentinos, chilenos, e toda a comunidade de país hispanos, que no seu total, é bem maior do que a dos PALOPs, não deixam de falar a língua como querem; entre todos estes países não deixa de haver grandes diferenças políticas. E, no entanto, no verso do meu dicionário da Real Academia Española, vejo escrito o nome das 22 academias da língua espanhola, dos 22 países hispano-falantes correspondentes, que, em conjunto, elaboram o maior e mais importante dicionário em língua castelhana. Ou seja, na escrita, todas as variações vocabulares em língua espanhola estão previstas, bem como as regras gramaticais.

Em Português, as coisas não acontecem assim. Chegámos a um ponto de ruptura tal, que existem dicionários de Português de Portugal e dicionários de Português do Brasil. Na Alemanha, alguns dicionários de Português do Brasil (da Langenscheidt!) vinham mesmo com o nome Brasilianisch-Deutsch (Brasileiro-Alemão). Não existiam aulas de Português. Existiam duas opções: Português de Portugal e Português do Brasil.

Ora, parece-me que isto é o maior desrespeito que pode haver com uma língua. O Espanhol não é ensinado separadamente em lado nenhum do mundo. O mesmo para o British e o American English. As diferenças são antes parte da natureza destas línguas, que são faladas em zonas muito distantes do globo. Mas não são partes de línguas diferentes! Por que razão há-de isto acontecer com o Português?

A meu ver, um verdadeiro acordo ortográfico eliminaria estas diferenças. Não podemos ignorar que por trás destas opções estão questões não linguísticas. Uma grande parte dos Brasileiros não se vê em Portugal um "país irmão", e não está disposto a mudar a língua que escrevem em detrimento da língua falada por um país minúsculo. Do lado dos Portugueses, a questão é a do orgulho e puritanismo da língua. Não nos parece aceitável escrever ação e ator. A raiz latina deve estar presente na escrita do dia-a-dia. A característica clássica do nosso Português deve persistir. Estes preconceitos não ajudam a um acordo ortográfico. Mas seria, a meu ver, este acordo que voltaria a colocar o Português no sítio que lhe compete, e que é o de uma das línguas mais faladas do mundo. Com o Brasil a conseguir inventar o "Brasileiro", deixaremos de ter a força que acredito que a língua tem. E se a força se mede em grande parte pelo número de falantes, então o Brasil ganha, e só temos que aceitar isso, até porque fomos nós os responsáveis.

O seguinte artigo explica algumas das diferenças que o acordo traria ao Português. Ao que parece, o actual governo está interessado na ratificação de um acordo definitivo. E eu só posso bater palmas:


"Acordo Ortográfico: O que vai mudar quando estiver em vigorOs efeitos não serão imediatos - mas a disposição recentemente anunciada pelo governo português de aprovar até ao final do ano o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa poderá ter desfeito algumas dúvidas, atenuado reticências, dissipado mesmo suspeições de «bloqueio».
O processo, de um momento para o outro, parece ter ganho um novo ímpeto. Segundo o chefe da diplomacia portuguesa, Luís Amado, disposição idêntica à de Portugal foi entretanto manifestada por Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: os três comprometeram-se a ratificar «rapidamente» o Acordo e o Protocolo Modificativo. Falta agora converter «rapidamente» em medida de tempo...
A pergunta tem sido e continuará a ser feita: quando todo o processo - legal e diplomático - estiver concluído, quantos mais anos serão necessários para que todos os países falantes de Português o escrevam da mesma maneira?
Malaca Casteleiro, um linguista na primeira linha da defesa do Acordo, disse à Lusa que, entrando o documento em vigor, será necessário um período de adaptação «que não deve ser inferior a quatro anos, para permitir as alterações em dicionários, manuais escolares e para a aprendizagem das alterações ortográficas».
Quatro anos em Portugal, o Brasil não deverá levar mais tempo a consegui-lo, mas quantos anos em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,São Tomé e Príncipe ou em Timor-Leste, que não solicitou ainda a adesão ao Acordo?
O futuro - o que é dizer também a real vontade política dos intervenientes - o dirá.
Pretende-se com o Acordo «a unidade da Língua» - na escrita e só na escrita, naturalmente. Acreditam os especialistas, e não apenas eles, que, unificada, a Língua portuguesa terá outra força, ganhará em «poder de afirmação» nas instâncias internacionais.
Para que a unidade se efective há cedências a fazer de um lado e do outro do Atlântico. Quem cede mais?
Os especialistas deitaram-se ao estudo e fizeram balanços: as modificações propostas no Acordo devem alterar 1,6% do vocabulário de Portugal.
Os portugueses deixarão, por exemplo, de escrever «húmido» para usar a nova ortografia - «úmido».
Desaparecem também da actual grafia em Portugal o «c» e o «p» nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em «acção», «acto», «baptismo» e «óptimo».
Diz Malaca Casteleiro que as alterações a introduzir, «importantes para unificar e dar força» à língua portuguesa, «não são dramáticas, não vão assustar as pessoas».
No Brasil, a mudança será menor, porquanto apenas 0,45% das palavras terão a escrita alterada.
O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente e ao hífen acontece o mesmo quando o segundo elemento da palavra comece com «s» ou «r», casos em que estas consoantes devem ser dobradas, como em «antirreligioso» e «contrarregra».
Apenas quando os prefixos terminam em «r» se mantém o hífen. Exemplos: hiper-realista, super-resistente.
O acento circunflexo sai também de cena nas paroxítonas (palavras com acento tónico na penúltima sílaba) terminadas em «o» duplo («vôo» e «enjôo»), usado na ortografia do Brasil, mas não na de Portugal, e da terceira pessoa do presente do indicativo ou do conjuntivo de «crer», «ler», «dar», «ver» e os seus derivados. Passará a escrever-se: creem, leem, deem e veem.
No Brasil, o acento agudo deixará de usar-se nos ditongos abertos «ei» e «oi» de palavras paroxítonas como «assembleia» e «ideia».
Com a incorporação do «k», «w» e «y», o alfabeto deixará de ter 23 letras para ter 26."

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Educações


No meio de toda a azáfama imparável que tem sido esta semana, houve cinco segundos em que parei a olhar para uma coisa que se me apareceu, e que rezava assim:



"O namoro: natureza, riscos e vantagens."

(Sumário de uma aula de Educação Moral Religiosa Católica de uma turma de 9º ano).





Tenho medo de imaginar esta aula.


Foto: Como se reza o terço? Finalmente percebi como é que se faz. Pode haver desenho mais explicativo? Para mais lições sobre o assunto, consultar http://www.legiaodemaria.org.br/comorezaroterco

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Me no like it (ou comentário em hora tardia e por isso pouco sério)

Nesta hora, a mais horrível da semana, em que uma semana acaba, e em que já me pesa a que amanhã começa, sinto-me, pela primeira vez neste ano lectivo, irremediavelmente perdido. Começo a sentir que não consigo dar conta do recado quando se trata de dar uma aula de nível muito inicial e muito básico da língua. Pergunto-me: Como é que é possível não achar uma maneira de ensinar as horas numa língua estrangeira? Porque é que sinto que tudo aquilo que me passa pela cabeça são só ideias estúpidas, e destinadas ao insucesso e ao ridículo?
Seria tão bom chegar lá e explicar nos 5 minutos verdadeiramente necessários como é que se dizem as horas em Alemão. "Pronto, é assim, meus meninos, é muito fácil. Faz-se assim, 1. Faz-se assim, 2. Faz-se assim,3. E é isto. Próximo tema!"
Porquê gastar 45 minutos? Por outro lado, se é um assunto do mais básico e pouco apelativo, porquê perder tempo a pensar em estratégias melhores para fazê-lo?
Algo tão insignificante, e que, no entanto, me está a tirar o sono, a paciência e a confiança. Porque professor que não sabe explicar (melhor, não sabe como o fazer, ou como o fazer de modo satisfatório para ele próprio) a mais simples das coisas, não pode gabar-se de ser um bom espécime. Ou pode?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Perderei mais países?


Viajar, viajar, viajar. É disto que eu preciso. Esmagam-me as lembranças das viagens que pude fazer, os lugares onde estive, as caras que vi, as comidas que provei, os dias longínquos de um bem-estar que ainda hoje não consigo explicar. É normal aos 22 anos ter saudades de tanto? Apavora-me não poder sentir outra vez a liberdade que senti ao correr essa Europa toda sem medos, nem preocupações com o minuto seguinte. Quero voltar a isto, quero ser o descobridor que era, quero sair daqui, largar tudo e mergulhar no anonimato e na mais verdadeira e absoluta liberdade de acção que pode existir.

Quero passear por onde me apetece, sem pressões, sem vozes intragáveis, sem ter ouvir quem não quero ouvir. Quero conhecer, mais e mais e mais, e mais ainda e outra vez o que já conheci e tudo o resto que se me apresente à vista. Quero cometer loucuras irreflectidas, quero pegar em quem mais me importa, e saltar para todo o lado, e rir, e rir, e falar sobre o mundo e sobre nós e os nossos sonhos.


Tenho saudades. Muitas. De tudo. Tudo o que vivi. O que vivi lá. Lá é que sou, aqui não.
Bazemos.


Foto: Eu e a Laura "mirando" Copenhaga. 10 de Março de 2006

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Vergonha(s)


Quando todo o país se indignava contra a Ministra da Educação e a proposta para o fim das expulsões nas escolas, a ser introduzida no novo Estatuto do Aluno, eu, de alguma forma, simpatizava com o acto. Não sei, sinceramente, se é boa ou má ideia, porque não sei até onde a ideia que temos da indisciplina nas escolas não passa de pura especulação e, essencialmente, de incompetência de um grande número de professores. Repito... não sei. Mas a manifestação de medo dos professores perante a possibilidade de já não terem o gostinho de dizer um "VAI PRÁ RUA", faz-me pensar sobre, de facto, quem detém a autoridade na escola. Quem tem o poder, e quem ameaça quem?

De qualquer forma, simpatizei com a ideia, porque já que a política do governo é revolucionar a escola, então que o faça de uma vez por todas, e em todas as suas frentes. Assim, o resultado avaliar-se-á melhor. Seja ele muito bom, seja ele péssimo.


Qual não é o meu pasmo quando leio isto no DN de hoje:



"Os alunos do ensino básico com excesso de faltas poderão ficar retidos no mesmo ano de escolaridade, caso não tenham aproveitamento na prova de recuperação. Na mesma situação, os estudantes do secundário serão excluídos da disciplina em que falharam a aprovação na prova.

(...)

O PS volta (...) a mexer num artigo que já tinha aprovado. E no qual já tinha introduzido mudanças face à formulação inicial da proposta do Governo. A primeira versão do estatuto do aluno, aprovada em Conselho de Ministros, definia que um estudante que ultrapassasse o limite de faltas seria sujeito a uma prova de "equivalência à frequência", após o que o conselho executivo decidiria da sua permanência ou exclusão. Uma vez chegado à Assembleia da República, o diploma foi alterado pelo PS, deixando de prever a possibilidade de exclusão do aluno - uma medida justificada com o princípio de que a escola deve ser inclusiva e não excluir. Mas aquela é precisamente a hipótese que os socialistas voltam agora a introduzir na proposta. E em sentido contrário às declarações da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que na última terça-feira, em entrevista ao DN, fez a defesa da anterior proposta avançada pelos socialistas (...)."



O arrojo do governo é no fim vencido pelo medo. Temos uma ministra desautorizada. Temos valores da maior importância, como os da "escola inclusiva", usados indiscriminadamente conforme os objectivos momentâneos do Ministério da Educação. Temos uma política da treta. E eu tenho a vergonha que esta gente não tem.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Notícias ibéricas


Saramago tem razão. Há demasiados factos que provam que Portugal e Espanha deviam ser um só país. Digam lá se esta notícia não é do tipo: "Isto só mesmo em Portugal"? Parece que não...

domingo, 28 de outubro de 2007

Unruhe

Detesto a sensação de ter mil coisas para fazer, e bloquear, não produzindo e desperdiçando tempo.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Lufadas frescas de ar musical

Um americano de 21 anos, cheio de pujança, originalidade, e dotado de uma curiosa obsessão por pôr a imaginação a funcionar, tomando culturas que nunca conheceu de perto como cenário de inspiração para a sua música. O nome do jovem que dá voz a este projecto é Zach Condon.

Este tema é "Elephant gun", dos Beirut.

(aconselho vivamente a leitura da entrevista a este moço, na Ípsilon da passada 6ªa feira).

Vejo este vídeo e só me apetece saltar lá para dentro!

domingo, 21 de outubro de 2007

O leitor








Nos últimos tempos tenho tido a felicidade de conhecer autores actuais que escrevem em alemão, cujas obras se revelam de grande relevância para perceber o pensamento alemão pós-guerra, nomeadamente a análise racional e ponderada do fenómeno do Holocausto, da relação entre as duas Alemanhas, e da emigração. Estes livros, todos eles publicados nos anos 90, foram responsáveis por grandes caminhadas minhas por essas ruas fora, deambulando sem prestar qualquer tipo de atenção ao que me rodeava, estando totalmente absorvido por pensamentos que lia nestas obras, e que me desafiavam a rever todo o tipo de concepção de ser humano, de história, de responsabilidade, enfim, de ideias que o tempo encarrega de pregar-nos ao cérebro, e que, só a muito custo, arriscamos a ousadia de as pôr em causa.


Terminei agora mais um desses livros. "Der Vorleser", de Bernhard Schlink (em português, "O leitor" - Edições Asa - 1998).


Michael Berg, de 15 anos, envolve-se com Hanna Schmitz, mulher misteriosa, com mais 20 anos que ele. O romance é-nos contado pela voz de Michael, de maneira autobiográfica. Michael relata o amor em relação a Hanna enquanto miúdo, e que se manifestava pela forma de um ritual, que todos os dias se repetia: tomavam banho juntos, faziam amor, e ele lia-lhe as grandes obras literárias da história.


Um dia, Hanna desaparece sem deixar rasto. O jovem Michael cresce, e volta a encontrá-la durante um julgamento de crimes de guerra nazis, que observava enquanto estudante de Direito. Hanna está sentada no banco dos réus.


O que se sucede a partir daqui é uma inquietante reflexão sobre os crimes hediondos do 3º Reich, mas pela perspectiva da história de Hanna. Ela é a criminosa que simboliza o violento regime, e, no entanto, ela é a mulher que protagonizou a tocante história de amor que ocupa toda a primeira parte da obra. Como nos situamos como leitores, em relação a Hanna? Sentimos pena, ao sabê-la uma das acusadas? Odiámo-la repentinamente? E por que razão a odiamos? Por ter abandonado Michael para ir servir em Auschwitz, ou por ser mais uma das responsáveis pela morte de milhões de pessoas? É quando nos encontramos neste dilema que ficamos a saber o segredo que marcou todo o percurso de vida de Hanna que ela ocultou de todos, e que nos complica ainda mais a pesada indecisão entre "julgar" ou "compreender".


De qualquer forma, enquanto leitores, a distância é-nos confortável. Porém, a voz é de Michael, e é a voz angustiada de um homem que, tendo amado a criminosa, se pergunta se acusando-a não se estará a trair a si mesmo e ao seu inevitável passado.


A partir da voz de Michael tomamos contacto com a voz de uma geração a quem foi incumbida a dolorosa tarefa de avaliar se devem olhar para os próprios pais com vergonha ou com condescendência.



Os mais cépticos dirão que sobre o Holocausto já tudo foi dito, e que reflexões deste tipo só provam a vontade dos alemães de justificarem os actos do 3º Reich. Eu digo que o cepticismo não é mais do que a vontade de não pensar sobre uma questão humana tão essencial quanto desagradável. E mais, este cepticismo é querer limitar toda esta questão à explicação simplória que a historiografia do século XX tratou de nos dar, e que, ao invés de impedir que nos esqueçamos do horrendo, fomenta uma visão do horrendo que mais não é do que um cliché, que se resume nos livros de história ou no cinema a uma frase, que dizendo tudo, não diz absolutamente nada, que é - "O ser humano é capaz das maiores atrocidades. "



"O leitor" foi o primeiro livro alemão a conseguir o primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times, e é, a seguir a "O perfume", o livro escrito em alemão com maior projecção em todo o mundo. Foi também vencedor de vários prémios literários na Alemanha, Itália e Finlândia.


Por todas estas razões, a leitura impõe-se, principalmente porque está traduzido para português. Neste momento, está já em preparação a adaptação do romance para o cinema, pela mão dos aclamados Stephen Daldry e Scott Rudin, realizador e produtor, respectivamente, do filme "As horas", estando Nicole Kidman a assegurar o papel de Hanna. As primeiras filmagens já começaram em Berlim e Görlitz, uma pequena cidade alemã junto da fronteira com a Polónia, onde existiu uma grande comunidade judia. Esta cidade fica relativamente perto de Leipzig, onde fiz Erasmus, e por isso, dei lá um saltinho. Aqui ficam algumas fotos:








quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Mimalhices


Ao efectuar pesquisa sobre o tema da manipulação genética de alimentos, a partir do qual estou a planificar a minha primeira assistência em Inglês, na semana que vem, encontrei um blog que me arrancou grandes gargalhadas, o que é inédito. Numa entrada sobre a destruição do campo de milho pelo grupo ecologista Verde Eufémia em Agosto deste ano, o autor do blog discorre desta maneira:


"O que aqueles meninos danados para a brincadeira fizeram foi invadir propriedade privada e destruir o sustento de uma família. Só o conseguiram porque, no fundo, são uns mimados, que vivem à custa da mesada dos pais e dos fretes que fazem nos dois dias seguintes a terem tomado banho, enquanto o cheiro não impossibilita o convívio. Aposto que para eles faria muito mais sentido uma plantação de cannabis."

Bingo!

Leipzig


Há momentos em que o vício de recordar me assola, sorrateiramente, inevitavelmente, sem o admitir para mim próprio, qual alcoólico, qual toxicodependente. E só consigo pensar que tenho saudades de mim nestas ruas.

domingo, 14 de outubro de 2007

Eh lá! Eles afinal pensam por eles!


Os peregrinos que acorreram a Fátima para ver a nova basílica tiveram que esperar horas para poder entrar. Perante tal cenário, começaram a assobiar, a vaiar, e a 'reivindicar que "isto foi construído com o nosso dinheiro"'.


Parece que os sacerdotes ficaram incomodados por lhes terem estragado a festinha. Não vejo porquê. Fátima, a Senhora Nossa (atenção ao possessivo), também tem direito a alguma animação. Porque é que em vez de ter que apanhar sempre com os traumas e frustrações de tantos milhares de pessoas, de ter que visionar lencinhos brancos, joelhos sangrados e rugas de tristeza, não pode, para variar, contemplar alguns escândalos, que não passam de expressões livres e sinceras da verdadeira natureza dos que a veneram?

sábado, 13 de outubro de 2007

Perspectivas

"O amor não se manifesta através do desejo de fazer amor (desejo que se aplica a um número incontável de mulheres), mas através do desejo de partilhar o sono (desejo que só se sente por uma única mulher)."
in "A insustentável leveza do ser", Milan Kundera

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Nobel da paz


Al Gore é este ano o galardoado com o prémio da Academia Sueca. Muita gente há-de ficar surpreendida: "- O que é que têm a ver as alterações climáticas com a paz?"



Eu diria que será o estado físico do planeta que irá definir as relações futuras entre as nações. Relações de paz e relações de guerra. E atente-se nos dois países que mais lançam CO2 para a atmosfera: EUA e China. O actual país mais influente do mundo e a (possível) grande potência económica do futuro não respeitam o ambiente?

E o que pensar da Rússia, do Canadá, da Dinamarca, da chanceler Merkel, todos repentinamente interessados em "que parte pertence a quem" no pólo norte?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Dia fértil


Sócrates voltou à escola na Covilhã onde estudou. À espera dele teria uma manifestação de sindicatos de professores. De manhã, dois polícias à paisana visitam a escola, e tentam demover a manifestação marcada para de tarde. Estranho. Pidesco.


Sócrates chega à Covilhã, apanha com altos insultos (que resistiram à intimidação), os jornalistas pedem-lhe comentários e diz: "É normal, é a festa da democracia". O primeiro ministro acha que os protestos não passam de uma celebração do direito mais que óbvio à contestação política? Um direito que alguém de manhã sorrateiramente tentou violar? Estranhíssimo. Ridículo. Cínico.

Something is rotten in the reign of Portugal

Santana profetizou na semana passada. Agora, estou dois dias sem ver as notícias...

E descubro isto (preocupante).

E isto.

Já sabem. Invistam na vossa carreira literária light, ponham o país a ler livros sobre pseudo-história secreta do país e do mundo, e depois digam publicamente tudo o que vos apetece sobre a empresa em que trabalham.

Se Rodrigues dos Santos não tivesse o pé de meada dos livros que vende, e que o pode sustentar em caso de despedimento, será que viria para a Pública falar da intromissão do governo na televisão pública? E será que não tínhamos o direito de saber disso à mesma?

domingo, 7 de outubro de 2007

Tempos modernos


Ferreira Fernandes escreve hoje no DN um artigo que desvenda um exemplo de como as relações humanas nos propõem revisões constantes da maneira como nos organizamos socialmente, e da maneira como estas desafiam até os documentos legais mais vanguardistas. Vale a pena ler!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Words that fit the day

Is it my calling to keep on when I'm unable?
Is it my job to be selfless extraordinaire?
My generosity has me disabled by this,
My sense of duty to offer.


(Offer, Alanis Morissette)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dia Mundial da Música

Dias maus ou bons, momentos bons e maus. Vale mesmo a pena ouvir esta rádio.

.dir gewidmet. ich höre das und denk an dich. bis in die Ewigkeit.

* * *

Flipándolo

Con lo rara que es la gente. O yo. A saber.
En tu pensamiento lo tienes totalmente claro que es eso, el cambio, el soplo explosivo de vida, lo que tiene que salir de tí, y solamente de tí. Lo tienes clarísimo que no eres genial, sino humanamente capaz de hacer algo que crees que vale la pena. Intentas convencerte todo el día, y todos los días, que los demás pueden saberlo de tí. Que se lo puedes demostrar, y que para eso son suficientes tus ganas y tu saber y tu indignación, y todas las demás razones que repites a tí mismo cada vez que piensas: "¡Qué fácil es esto al final!"
Pero el resultado es distinto. Una y otra vez te callas, y te dejas llevar por la mierda mental a tu alrededor cuyo olor te penetra el cerebro, y que estimas al final ser imposible combatir. Sufres en silencio, dejas que la nariz lo aguante, aunque tu voluntad es coger una escoba y con ella barrer una detrás de la otra las excrecencias humanas quienes ves oprimiendo tu camino, aunque eres tu él que se lo permite.
¿Y cómo es posible que lo que es real y objetivo pueda mirarse de perspectivas tan distintas?
¿Cómo es posible que tú te fijes en lo bonita que es una ventana, mientras otro se divierte apuntando las decenas de tonalidades de suciedad que su cristal presenta?
¡Vaya puta mierda!

domingo, 30 de setembro de 2007

Considerações

Dizia Pessoa que o melhor do mundo são as crianças. E todos achamos o mesmo. Nas crianças está a verdade, nelas a inocência, nelas a pureza. Contudo, uma das profissões mais desgastantes e que, segundo se ouve dizer, leva mais gente a visitar psiquiatras, é a profissão docente. Porquê? Não são os putos um poço de doçura, umas mentes sem maldade? Parece que não. Pelo menos para os professores. E Pessoa não era professor.
Acabei um curso de ensino há alguns meses, no qual ouvi em diversas disciplinas relacionadas com a pedagogia, o desenvolvimento curricular, a sociologia da escola, etc, que o nosso papel é mudar. Por nosso entenda-se os dos novos professores. E mudar o quê? Mudar toda uma cultura escolar que é suportada por pessoas que não tiveram a formação pedagógica que agora nos foi dada. Pessoas que entraram no sistema porque não as havia suficientes. Pessoas que entraram na escola sem conhecer estratégias de abordagem de conteúdos, sem conhecer estratégias de abordagem pessoal com os alunos. Pessoas que viam a sua carreira prosseguir sem que grandes esforços tivessem que ser feitos. Pessoas que não se esforçavam por melhorar o sistema de ensino, porque lhes era mais confortável ganhar o seu ao fim do mês, e dispensar responsabilidades na hora de divulgação de resultados dos alunos, respondendo simplesmente: "-São todos uns burrinhos".
Este cenário escabroso, de alguma forma já suspeitado pela sociedade em geral, foi-nos pintado ao longo do curso, e sorrimos, porque de facto achávamos que era em nós que residia a revolução. Achámos que a classe docente era efectivamente a culpada pelos maus resultados dos alunos, pela péssima formação que provam ter. E estávamos à espera de chegar à escola em ano de estágio, e sentir o tão falado choque da realidade, em que as teorias de gabinete que nos são incutidas, podiam deixar de fazer todo o sentido, por haver questões básicas ainda por resolver nas escolas.
Chegado à escola, enfrento de imediato a resistência. Os professores colocados há anos numa escola não são fáceis de convencer. Convencê-los de coisas importantíssimas para nós, e totalmente dispensáveis para eles. Falo por exemplo da discussão sobre maneiras mais eficazes de avaliar os alunos - especialmente nas línguas estrangeiras, em que várias competências deveriam ser tidas em conta, e não o são. É mais fácil deixar estar como está, porque desta forma não é necessário rever toda uma conduta de anos, que parece funcionar, e por isso não tem que ser revista. Falo também da programação de actividades mais dinâmicas para os alunos, como visitas de estudo. Recusam-se. Justificam com o medo de que as faltas que essas visitas implicam sejam prejudiciais para a sua contagem de pontos, para assim chegarem mais rápido à titularidade. No entanto, quase imploram para que as actividades que realizaremos na escola incluam a dispensa de aulas dos alunos, provavelmente para que nos entretenhamos nós com eles, podendo eles fazer livremente o que bem lhes apeteça durante uma tarde ou manhã.
Uma professora já quase em fim de carreira elogiou "a nossa coragem" por escolhermos a profissão docente, quando o cenário é deprimente. A senhora pintou o nosso futuro como um vazio sem esperança. E uma mão cheia de perguntas assola-me: se eu não tivesse escolhido isto, onde estaria? se eu tivesse escolhido "Humanidades" mas outra área que não as línguas que estaria a fazer? Direito? Seria mais um dos milhares de advogados deste país que ocupam pisos e pisos de escritórios por essas cidades fora, a definhar em frente a processos e processos menores e sem a mínima importância ou interesse para eles? Se tivesse ido para as ciências, será que teria escolhido medicina? Será que o teria conseguido? E se o tivesse conseguido, estaria feliz? Fá-lo-ia com gosto?
A profissão docente é ingrata, de facto. Aquilo que me demarca, e estou convencido disso, é o jeito natural para as línguas. Porque haveria eu de renunciar a isso porque a sociedade me incute a ideia de que não serei útil? Quem disse? Quem me diz que não posso explorar aquilo que de facto faço melhor, devendo preferir em primeiro lugar a (suposta) segurança e o status que outra carreira qualquer me daria. E o que é feito do gosto, da vocação? O que é feito da vontade de mudar alguma coisa ao nosso lado, por pequena que seja, em detrimento de uns quantos mais euros ao fim do mês, e a assunção de um estatuto e respeito sociais que só alimentam a divisão social em bons-maus, ricos-pobres, formados-não formados? Ou serei um sonhador com ideias parvas e naives?
Aquilo que me rói é entrar no mundo da empresa "escola", e ver que ela não passa disso mesmo. De uma empresa com muitos interesses, legítimos todos eles, só havendo um que sendo hipocritamente considerado publicamente como o mais importante, é deixado de lado, e que é o dos alunos.
Como vinha a dizer atrás, os professores são primariamente culpados pela situação. Porém, venho a descobrir que o facto de serem assim, advém da situação em que se encontram por pertencerem à máquina do Estado, que lhes ata as mãos e os pés, e depois exige deles que corram até muito mais longe do que têm conseguido correr.
Há todo um conjunto de burocracias e regras ditadas pelo Ministério da Educação que não permitem aos professores (pelo menos àqueles que querem) inovar um pouco, seja na abordagem do “programa”, seja na elaboração dele. Há uma panóplia de afazeres dos professores na escola que não deixa que estes se possam concentrar totalmente no melhoramento das aprendizagens dos alunos. Há, em suma, uma máquina que tem que ser mantida, uma máquina organizativo-burocrática que sem os professores não funciona, e que é para eles mais relevante em termos de progressão na carreira do que a maneira como dão aulas. Os únicos que teriam voto na matéria para julgar a atitude dos professores dentro da sala de aula seriam os alunos, e esses são reduzidos a meros observadores do processo, ou causadores de problemas, sem autoridade para dizerem de sua justiça se a escola como existe lhes faz sentido ou não.
Tudo isto faz da escola uma empresa muito complicada, mas fascinante. Pelo menos eu vejo-a assim. É muito fácil sermos bons professores fora do sistema público de educação. Tudo nos é dado de bandeja, temos liberdade de actuação, e logo fazemo-lo com mais gosto. O que é necessário na escola pública é a verdadeira preocupação com os problemas que ele oferece, e para isso temos que estar genuinamente interessados em ajudá-la. Sem apoios, remunerações e respeito, esta tarefa torna-se difícil. Mas com vontade e com uma adopção genuína do lema de Fernando Pessoa, talvez possamos dia a dia concretizar pequenos passos que levem à tão desejada mudança.

sábado, 29 de setembro de 2007

"O país está doido" (Santana vs. Mourinho)

Nada mais acertado. Finalmente alguém que os teve no sítio na hora certa para mandar aonde sabemos que devem ir uma grande parte dos jornalistas deste país.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Feeling kinda wanting to hear this song

Acabo de descobrir que a extraordinária Fiona Apple gravou um original dos Beatles, Across the universe, para a Banda Sonora do filme Pleasantville (quem o tiver que me diga). Uma música para ir às nuvens e voltar em 4 minutos e 27 segundos. A Fiona linda como sempre, e uma letra que vale a pena conhecer.

Across the universe

Words are flowing out like endless rain into a paper cup,
They slither while they pass, they slip away across the universe
Pools of sorrow, waves of joy are drifting through my open mind,
Possessing and caressing me.
Jai guru de va om
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Images of broken light which dance before me like a million eyes,
That call me on and on across the universe,
Thoughts meander like a restless wind inside a letter box they
Tumble blindly as they make their way
Across the universe
Jai guru de va om
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Sounds of laughter shades of earth are ringing
Through my open views inviting and inciting me
Limitless undying love which shines around me like a
Million suns, it calls me on and on
Across the universe
Jai guru de va om
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dia Europeu das Línguas


"As línguas são a própria essência da União Europeia. As línguas que falamos definem quem somos. A União Europeia respeita a diversidade cultural e linguística dos seus cidadãos.No termo de um Ano Europeu das Línguas 2001 extraordinariamente positivo, organizado pelo Conselho da Europa e pela Comissão Europeia, foi decidido que o dia 26 de Setembro seria, anualmente, o Dia Europeu das Línguas, para comemorar o rico património de culturas e tradições que todas as línguas europeias representam - e não apenas as 23 línguas oficiais da União Europeia. A diversidade linguística dá-nos a oportunidade de entrar na pele de outra pessoa e ver a vida de uma perspectiva diferente."
A título de curiosidade, as 23 línguas oficiais da União Europeia são:
Alemão
Búlgaro
Checo
Dinamarquês
Eslovaco
Esloveno
Espanhol
Estónio
Finlandês
Francês
Grego
Húngaro
Inglês
Italiano
Irlandês
Letão
Lituano
Maltês
Neerlandês
Polaco
Português
Romeno
Sueco

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Psychological mayhem

Num dia podes ser o melhor que podes e o pior.
Num dia aplaudes a ti próprio e dás uma bofetada a seguir.
Num dia recebes sorrisos que te deixam orgulhoso e sorrisos que te deixam de rastos.
Num dia sentes que és rei e que és rasca.
Num dia. Num mesmo dia.

domingo, 23 de setembro de 2007

Poema de Amor para o início de Outono

Morgens und abends zu lesen






Der, den ich liebe

Hat mir gesagt

Dass er mich braucht.




Darum

Gebe ich auf mich acht

Sehe auf meinen Weg und

Fürchte von jedem Regentropfen

Dass er mich erschlagen könnte.



Bertolt Brecht

sábado, 22 de setembro de 2007

O outro lado de Auschwitz


O United States Holocaust Memorial Museum mostra no seu sítio um álbum de fotos, todas tiradas por Karl Höcker, adjunto do último comandante de campo de Auschwitz. Nas fotos vemos como eram ocupados os tempos livres dos oficiais, as festas, os concertos, as àrvores de Natal, funerais dos soldados alemães mortos em ataques dos Aliados, e muito mais. De um lado estavam todos os que não mereciam viver, cujas fotos já todos conhecemos; do outro estavam os alemães, desde soldados a mulheres ajudantes (Helferinnen), levando uma vida normalíssima, retratada nestas fotos agora divulgadas. Se não nos dissessem de onde vem este material, poderíamos perfeitamente pensar que esta gente estava numa quinta onde se criam animais, ou numa casa privada, a servir um senhor rico. A verdade é bem mais impressionante. As pessoas que vemos sorrir nestas fotografias cuidavam do bom funcionamento da maior e mais bem organizada indústria de morte alguma vez concretizada no continente europeu. Aqui fica uma das imagens.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Humm

Longe vão os dias em que todos ouvimos pela primeira vez a canção dos Toranja que nos conquistou. Sim, porque a piada do "ah, o toranjo resolveu pegar num monte de palavras e juntá-las numa música" não pega. Todos devemos admitir que andámos com a letra da Carta na cabeça, e que, naquela altura, todos gostámos da inovação que o autor, queiramos ser honestos, trouxe para o panorama musical português (salvaguardando, obviamente, as semelhanças com Jorge Palma, mas essas já têm o estatuto de "facto", não nos cabendo por isso entrar em discussões sobre o assunto).
Sei, igualmente, que todos nós nos arrependemos desses longos dias (quiçá noites) em que ouvíamos a música, e cantávamos em uníssono com o rapaz, sorrindo e pensando em quão agradável resultavam os dois simples acordes da canção a acompanhar uma tão heart-breaking declaração de amor. Todos nós ganhámos juízo, entretanto, e a toranja ficou para a história.
O facto de que esta canção conseguiu arrancar-nos emoções tão extremas como o espectáculozinho ridículo no carro a cantar "numa chama minha e tua" e o agora extremo ódio a um passado tão vergonhoso como é o tempo da nossa vida em que vibrámos com esta canção, este facto, dizia eu, pode causar injustiças na avaliação da nova canção de Tiago Bettencourt. Porém, uma coisa é certa: acho a música estranha, à falta de adjectivo melhor. A suposta originalidade da canção põe a própria originalidade em causa, levando-a a tocar o bacoco. Não sei que pensar. Pelo menos o rapaz teve a coerência de chamar à canção "Canção Simples". Nada mais acertado.
Assumo, no entanto, que esta música se me tornou um tanto ou quanto pouco séria, a partir do momento em que a ouvi, ainda desconhecendo a original, a versão de uma amiga, que temo ter cortado de raiz qualquer gozo que eu poderia vir a ter ao ouvir esta música. Quiçá a culpa seja dela, e não do Tiago?

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Uma coisa vos digo...

Desta semana de primeiro contacto com os meus alunos, há algo que se destaca pela negativa, e há todo um grupo de professores que eu passo a respeitar a partir da tarde de hoje, em que sofri como já não me lembrava de sofrer. CORRIGIR TESTES É A COISA MAIS HORRÍVEL QUE EXISTE!
É o maior teste à paciência que pode existir. Acrescentando ao facto de que este era um teste de apenas uma turma e diagnóstico (conhecimentos enferrujados do verão), o facto de que estávamos enfiados numa sala quente, com mistura de suores e sofás de couro desconfortáveis, posso apenas dizer que sobrevivi a muito custo, e os risos doidos que nos saíam naturalmente eram o escape possível dum stresse que vai comendo os nervos lentamente.
A boa notícia é que as quatro turmas a quem darei aulas são do melhor que se pode querer. Não há maneira de resistir a sentimentos foleiros carinhoso-paternais quando se olha para aqueles miúdos. O trabalho é muito, mas vai valer a pena. Há momentos em que o sentimento de confirmação do gosto por esta profissão é extasiante.

Look who's coming to town

Coldfinger - Supaficial

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Perspectivas

"O puxador da porta é a mão estendida de uma casa".

in Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Boas notícias...


António Lobo Antunes recebe ovação no 7º Festival de Literatura de Berlim.


"Visivelmente emocionado, o escritor português evocou as suas raízes germânicas, afirmando estar na terra que o seu pai 'considerava sua e considerou até à morte'".

Más notícias...

Hoje no JN:
"Não há, em nenhum país da União Europeia a Quinze, uma única região com menor capacidade para criar riqueza do que o Centro e o Norte de Portugal e, logo a seguir, o Algarve e os Açores. Nem sequer as regiões gregas, com quem Portugal se vinha a comparar nos últimos anos. Os dados datam de 2004 (os últimos disponíveis), mas a disparidade deverá ser hoje ainda maior, já que Portugal tem crescido abaixo da média europeia. E, nos próximos anos, o desenrolar de acontecimentos deverá deixar o país ainda mais longe dos parceiros europeus, já que aproveitará menos as políticas de coesão comunitárias do que, por exemplo, a Grécia, indicam estimativas preliminares da Comissão Europeia."
- E esta:
"Se a escolaridade mínima é o mais normal no país, então poucas serão as pessoas com o secundário completo. No Norte, o último lugar da lista, só uma em cada dez pessoas terminou o 12.º ano. Como seria de esperar, seguem-se as regiões autónomas, o Centro e o Alentejo. Novamente, não há aqui qualquer outra região de qualquer outro país comunitário. Portugal, no seu conjunto, tinha pouco mais de um décimo da população activa com o secundário - a média comunitária, incluindo a dos países do alargamento, de é 50% (metade)."

domingo, 16 de setembro de 2007

Seemann

Uma canção para um dia de saudosismo, como é o de hoje.

Rammstein - Seemann

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Amo Amo Amo


esta mulher.

Fiona Apple

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Farto

Não tenho paciência para explicar às pessoas porque é que tenho tanto trabalho ainda antes das aulas começarem. Não quando todos acham que ser professor é chegar à escola no primeiro dia, agarrar no manual, abri-lo, debitar o que lá diz, e encerrar a aula. E repetir isto todos os dias até ao fim do ano lectivo. Não é isto, mas não me perguntem o que é então, porque não vou ter paciência para vos explicar o que é.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Ensino obrigatório até aos 18




Parece que a ministra da educação acaba de anunciar que a partir de 2009 os alunos terão que permanecer na escola até aos 18 anos de idade. Sra Ministra, um pedido: explique ao país PORQUÊ. Não interessa ao país saber que os miúdos ficam na escola até mais tarde, nem aos próprios alunos, se não lhes mostrar que o investimento na formação representa, de facto, um benefício para eles, e que não é apenas uma imposição teórica da Europa que se quer civilizada. Mais um conselho: de preferência, utilize outros argumentos que não sejam a oferta de computadores e de quadros interactivos. Sem alunos preparados para a seriedade e sem professores bem formados, bem que o país continua por longos anos com o seu défice educativo, apesar das escolas estarem apetrechadas com tanta tecnologia.




Vejo na notícia um motivo de sorriso para nós, professores. Com mais gente a ter que aprender, mais gente terá que ensinar. Espero é que tanta tecnologia não faça o país esquecer que ainda existe uma área recôndita como é a das humanidades, da qual saliento, como é óbvio, as línguas e as literaturas.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

When one word is enough




invincible

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O poeta inventado


Amadeu de Souza Prado. Este é o nome de um poeta português a partir do qual se constrói a história do romance "Nachtzug nach Lissabon" (Comboio nocturno para Lisboa), do suiço Peter Bieri, que escreve sob o pseudónimo Pascal Mercier.

Não li nada sobre este romance na imprensa portuguesa, o que é natural, uma vez que este foi publicado em 2005 na Alemanha, país onde o escritor é professor na Freie Universität de Berlim. No entanto, toda a história se concentra na descoberta de um professor suiço da cultura portuguesa, a partir de um encontro casual com uma mulher num dia de chuva em Berna, sua cidade natal. A anónima encontra-se numa situação algo incómoda; ao telefone, cheia de livros na mão, tenta apontar um número que alguém do outro lado da linha lhe está a dizer. Gregorius (o professor suiço) ajuda-a, e acaba por levá-la para a escola onde lecciona. Ao reconhecer pelo seu sotaque que a sua língua mãe não é o francês, pergunta-lhe qual o seu idioma, ao que a mulher responde "português", em português. A sonoridade desta palavra despoleta um estranho e curioso interesse de Gregorius pela língua da mulher (que misteriosamente desaparece), e é isto que o leva à descoberta de um livro em português de um tal Amadeu de Prado, cuja leitura leva o professor a aprender português de modo autodidacta e a abandonar repentinamente a cidade onde descobriu que tinha uma vida de que não gostava. Gregorius parte para Portugal, descobrindo a história e a vida pessoal de Amadeu de Prado,e envolvendo-se nela, e com as pessoas que a ela sobreviveram.

O romance é longo e inesperadamente detalhado no que diz respeito aos lugares (Lisboa, Coimbra, Almada, Esposende, Viana do Castelo, Galiza, Salamanca). Há claramente uma tentativa do autor de descrever estes lugares apenas como cenário da acção, e não como descrição exacerbada dos costumes e pessoas destes lugares, o que concentra a narração somente na personagem de Gregorius e na sua busca de pessoas relacionadas com Amadeu.

O que mais surpreende é a suposta transcrição de extractos completos do livro de Amadeu que Gregorius tem na mão dia e noite, e que vai traduzindo, e que não só consiste em reflexões sobre o sentido da vida e da morte, como provoca uma vontade imensa de ler os escritos reais de Amadeu, que apesar de tão verosímeis no romance, acabamos por descobrir que não existem, nem o próprio poeta.

Uma tradução da obra vencedora do prémio literário Marie Louise Kaschnitz, em 2006, para língua portuguesa seria interessante. Para já, a todos aqueles que se dão bem com a língua alemã aconselho vivamente a leitura.

domingo, 9 de setembro de 2007

1ª semana

O balanço da primeira semana de presença na escola é muito positivo. Foi uma sensação estranha voltar à escola da qual guardo muitas recordações como aluno. No entanto, estou a gostar de conhecer o lado do professor, todos os trabalhos prévios ao início do ano lectivo. Sinto que tenho em cima de mim responsabilidades como estagiário e como professor no futuro que, curiosamente, estou a gostar de ter. Sinto uma certa adrenalina de momento ao pensar que tenho ideias na cabeça para tentar fazer a minha prática da maneira melhor possível, e especialmente contribuir para se mudarem as práticas que ainda dominam, e que se relacionam com atitudes de acomodação e conformismo. Gostei deste início de ano. Um ano muito esperado ao longo de todo o percurso académico. Esta semana é a última antes do início oficial das aulas, o trabalho urge, e a expectativa é muita.

sábado, 8 de setembro de 2007

"Causas do desemprego dos professores"

...É o título deste artigo de João Miranda no DN de hoje, que, a meu ver, explica muito bem a razão para esta proliferação de professores (e não só) no país, apesar das altas taxas de desemprego. Aqui fica um excerto:

"Na maior parte das profissões, o melhor indicador do estado do mercado de trabalho no futuro é o valor dos salários actuais. Os salários diminuem com o aumento da oferta de profissionais. Por exemplo, se o rendimento do advogado médio é baixo, então é porque existem demasiados advogados no mercado, sendo provável que continuem a existir daqui a alguns anos. O Ministério da Educação não utiliza a oferta disponível no mercado para determinar os salários dos professores. Os salários resultam da pressão dos sindicatos e da disponibilidade orçamental. Não variam de acordo com a oferta de professores. Um estudante pré-universitário que utilize o salário dos professores como indicador do estado do mercado de trabalho acabará por fazer um juízo errado. Foi o que aconteceu aos actuais professores desempregados. Quando optaram por um curso superior relacionado com o ensino, a profissão de professor era bem paga, segura e prestigiada. O excesso de professores que já então existia estava camuflado por salários fictícios definidos politicamente. O erro de julgamento induzido pelos salários fictícios foi agravado por erros induzidos pelo financiamento público do ensino superior. Como o ensino superior é subsidiado, tanto os estudantes como as universidades tendem a ignorar sinais de alarme enviados pelo mercado. Os estudantes ignoram os sinais de alarme porque não estão a arriscar o seu próprio dinheiro. Se os estudantes tivessem de pagar o preço real da sua formação, fariam escolhas mais cuidadas. As universidades ignoram os sinais de alarme, porque o Estado subsidia-lhes os cursos, mesmo que elas enviem todos os anos centenas de finalistas para o desemprego."

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Maddie e a língua de Camões

O caso Maddie McCann está a servir para divulgar a língua portuguesa no mundo. Isso é que ninguém vê. A bem da divulgação do nosso belo idioma, continue-se este aparato. Veja-se em três jornais diários de hoje (El Mundo, The Guardian, Die Zeit) como a palavra portuguesa "arguido" vem explicada, em cada um dos idiomas correspondentes.

Quanto ao caso em si, se a mãe já é arguida, parece-me que o pai não demora a sê-lo também, e aí vai ser divertido ver como noticiará a imprensa britânica a partir de agora, quando é a polícia a oficializar o que até agora consideravam ser mera especulação dos meios de comunicação de um país atrasado.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Is book-missing a disease?


Tenho saudades das sensações que a leitura deste livro me provocou.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

E por falar em Soares...

O seu grande amigo Hugo Chávez teve uma ideia de génio. Depois de encerrar o canal de televisão RCTV, por se opor ao socialismo do século XXI, decide agora controlar os nomes que se podem atribuir aos bebés nascidos na Venezuela. Recomendo que leiam, chega a ser divertido.

Há pessoas que não desistem...

...como Mário Soares, que acaba de ser nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa (sim, isto existe!), como se lê aqui. É indecente a indiscrição do governo na atribuição de cargos a amigos, principalmente a este senhor, que não tendo conseguido o acesso à remuneração da Presidência da República, usa e abusa da sua imagem presunçosa de pessoa a quem todos devemos muito, para fazer o que bem lhe apetece, como se as comissões nacionais como esta (apesar de ninguém saber para que servem) fossem joguinhos para velhinhos sem nada para fazer.

Tristes governantes.