terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O melhor do mundo

Não há nada como uma criança para fazer da noite de Natal uma verdadeira noite feliz.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - VI

LITTLE MISS SUNSHINE (Jonathan Dayton, Valerie Faris, Michael Arndt)

Comédia hilariante que conta tão só a aventura de uma família cheia de elementos peculiares a percorrer os States para levar a personagem cinematográfica mais "fofa" dos últimos anos a um concurso de beleza. Cinco estrelas.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Sou História


Não posso deixar de sentir saudosismo ao ver a alegria de tantos cidadãos de países habituados a serem relegados para a diminuidora categoria de "países do leste" que agora podem passear-se pela Europa sem passar pelo transtorno da identificação do passaporte, devido ao alargamernto do espaço Schengen. Quando ouvimos dizer "agora pode-se ir de Portugal à Estónia sem parar em nenhuma fronteira" estamos a presenciar um pensamento contrário ao que realmente existe. São eles que agora podem vir da Estónia até Portugal, porque do nosso lado já há muitos anos que andamos por onde queremos, inclusive pelo leste da Europa. Falo por mim, que ao passar da Alemanha para a Polónia, testemunhei vários colegas meus, a pedir que lhes carimbassem o passaporte. É obvio que não era necessário carimbo nenhum, bastava os guardas darem uma rápida vista de olhos, e entrávamos sem problemas em solo polaco. Na altura não pedi carimbo nenhum, até porque, para além de ser uma lamechice pegada, me parecia ser uma falta de respeito para com os guardas, que ali seriamente faziam o seu trabalho. Aos olhos daqueles polacos não passávamos de uma cambada de putos mimalhos da Europa ocidental, interessados em passar a fronteira apenas para ir comprar dezenas de pacotes de tabaco Marlboro ao preço da chuva. Eu não fui comprar tabaco, mas tenho consciência de que fui pelo gosto que me deu sentir-me, pela primeira vez, num "país de leste".

As diferenças eram abismais. Vindos de uma cidade alemã limpa, organizada e iluminada (Görlitz), e cruzando apenas uma ponte sobre um rio, deparámo-nos com ruas sujas, carros velhos e podres, casas com anúncios pintados a tinta nas paredes numa língua incompreensível.

Muitos meses mais tarde, a experiência repetiu-se. Numa viagem pela Letónia, Lituânia e Polónia, ao chegar a cada fronteira, principalmente a meio da noite, sentia qualquer coisa simbólica, mística, que me transportava para uma História que não vivi. Lembrava-me dos aparentes contos fictícios contados pelos meus pais e avós sobre idas a Espanha, e em cujos regressos vinham cheios de produtos clandestinos escondidos em todos os espaços possíveis que houvessem no carro onde viajavam. Eu não precisava de esconder nada, mas sem dúvida o medo das histórias dos meus pais e avós tomava conta de mim quando aqueles guardas tão sérios e autoritários nos pediam passaportes para levá-los e fazer sabe-se lá bem o quê com eles, durante uns 20 minutos. O meu medo era místico. O das pessoas da terra não era. Aquela gente, que provavelmente cruzava as fronteiras com bastante frequência, via o controlo dos passaportes como uma rotina aborrecida e perigosa.

Esta rotina, a que assisti ainda na viagem para a República Checa e para a Hungria, acabou esta semana para milhões de pessoas. Fico feliz e imagino o alívio daqueles cidadãos em destruirem de vez a cortina de ferro que ainda os fazia permanecer no passado obscuro que querem eliminar. No entanto, também me senti feliz nos momentos que passei por aquelas terras, principalmente pelo romantismo e pelo misticismo de não poder viajar em auto-estradas porque não existiam, nem meios de transporte confortáveis; de não me fazer entender em língua nenhuma; de ficar especado sem dinheiro no meio de um campo lituano à responsabilidade de um condutor de autocarro reticente em aceitar que o veículo estava a arder. Marcas de uma Europa que está a desaparecer, e que os que virão depois de mim só conhecerão ao ler nos livros ou ao ouvir contos fictícios narrados por pessoas como eu.


Foto: Cracóvia, 9 de Junho de 2006 (dia em que completei 21 anos)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Sobre a mania de querermos ser imprescindíveis

O funcionário imprescindível
De um funcionário que já estava há bastante tempo numa repartição ouviu o senhor K. dizer, no meio de grandes elogios, que era imprescindível, de tão bom funcionário que era. "Como é isso de ele ser imprescindível?" perguntou o senhor K. irritado. "Sem ele os serviços deixavam de funcionar", diziam os seus louvadores. "Então como é que ele pode ser assim um funcionário tão bom se o serviço sem ele deixava de funcionar?" disse o senhor K. "Teve mais que tempo para organizar o serviço de maneira a ser prescindível. Em que é que ele se ocupa afinal? Digo-vos eu: a chantagear!"
in Histórias do senhor Kreuner, Bertolt Brecht

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Morte à ortodontia

Não consigo pensar. Não consigo concentrar-me. Só quero arrancar os mil ferrinhos que repentinamente têm que fazer parte da minha boca.

AARRGGHH!!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Barcelos é grandji


"Barcelos foi fundada em 1775 pelos portugueses que em vários locais da Amazônia reproduziam os nomes de cidades da metrópole (Bélem, Santarém, Óbidos ...). Barcelos é hoje a sede de um município cuja a área é superior a de Portugal. Barcelos (AM) é também o porto onde se negociam, há séculos, os produtos do extrativismo que sustentam as populações ribeirinhas dos rio Demene e Negro. "


terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A propos

João Miguel Tavares também tem hoje no DN alguma coisa a dizer sobre as nossas criancinhas.

O raça da canalha

Estas crianças e adolescentes pós-modernos estão a dar-me cabo dos nervos. São putos que se riem de quem acredita no Pai Natal ou se senta em frente a um ecrã para ver a Branca de Neve. Recusam-se a ter um sonho mais alto do que chegar ao horário vespertino da televisão como actores e ter sucesso, ou então seguirem o curso de Direito porque é o único "interessante" mas saber de antemão que vão morrer de fome. É isto o que vejo, é esta a nova geração. Gente pouco interessada em aprender, mas em tirar boas notas. Pouco disposta a ler, mas sempre pronta a sacar resumos da net. Gente que troça de quem sonha e imagina, gente que só vê números, objectividade, música, roupa, iPods e PSPs. Autómatos, seres todos iguais, reproduzidos nas escolas até à exaustão.

Sinto-me o típico cota que augura sempre o pior futuro para as gerações vindouras, mas esta é a realidade com que lido. Pode ser que aprenda a ser mais tolerante, mas como? Tenho alunos de 12 anos que veneram o filme High School Musical (ver vídeo acima) e os Tokio Hotel. OK. Perfeitamente normal para a idade. No entanto, o único comentário que produzem ao filme "Nightmare before Christmas" é um indiferente e superior: "Professor, se nos quer dar desenhos animados, ao menos que não sejam de plasticina..."

Haja tolerância para isto!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - V

“New York is where everyone comes to be forgiven”

Porque é que SHORTBUS não é um filme pornográfico?
Entendo a pornografia como um escape. Uma não realidade que se disfarça dela, e por isso é tão abertamente condenada quanto apreciada. A pornografia serve como estimulante sexual, como objecto de voyeurismo, como entretenimento. Não tenciona fazer pensar, mas também não nos incomoda, porque sabemos, ao vê-la, que não tem nada a ver connosco. Que é uma encenação, na maior parte das vezes sem sentido, sem verosimilhança, sem grandes preocupações técnicas. Em suma, a pornografia é perfeitamente desmerecedora da importância que lhe damos, como elemento nefasto das sociedades, como signo da exploração do corpo feminino, etc. É uma mera fantasia desprovida de realismo, e, por isso, tão apelativa quanto irrelevante.
Dizer que SHORTBUS é um filme pornográfico é reduzir o filme às cenas sexuais que nele são apresentadas, de facto, sem qualquer tipo de censura. É destacar o nosso preconceito e a nossa formatação anti-pornografia para a fila da frente da nossa capacidade crítica, fazendo aquilo que a própria pornografia nos ensinou a fazer: a sentir que devemos rejeitar qualquer cena estritamente sexual do nosso dia-a-dia racional, e mantê-las fechadas a sete chaves nesse submundo a que todos inevitavelmente pertencemos, mas ao qual não podemos admitir (gostar de) pertencer.
Este filme, realizado pelo jovem John Cameron Mitchell, é, para mim, um paradigma daquilo em que o cinema acabará por se tornar – um espelho cada vez mais fiel daquilo que somos. Não sou adivinho, nem percebo de cinema como para fazer uma afirmação deste género, mas aquilo que SHORTBUS me provou é que é possível transpor para o cinema o sexo real, aquele que praticamos no dia-a-dia, aquele que é de facto inato ao ser humano... aquele que a pornografia não apresenta. SHORTBUS mostra o sexo como metáfora, como uma expressão daquilo que de facto nos move, dos sentimentos, das relações afectivas, dos problemas guardados no secretismo da consciência solitária que existe em todos nós. O sexo ligado às emoções, às acções e às reacções quotidianas e, por isso, parte natural da vida humana, o sexo como manifestação física das nossas frustrações, felicidades, dúvidas, medos, tranquilidades. E uso o plural de forma propositada, porque em SHORTBUS a chave é precisamente o carácter plural na abordagem das personagens. Ou seja, não há uma centralização numa personagem apenas, mas sim num conjunto de pessoas que descobrem um caminho a seguir na tentativa de solucionar o problema que têm. E cada um tem um problema diferente, como cada um de nós.
SHORTBUS ousa olhar-nos de frente, expondo vidas de pessoas a partir das situações mais íntimas, mais privadas, mais escondidas, mais individuais em que temos o direito de nos encontrar. No início do filme, o mais perturbador é o grafismo nu e cru das cenas sexuais. No fim, a sensação incómoda advém do facto de nos vermos retratados num ecrã de cinema, despidos em frente a ele, na intimidade que até agora não permitíamos ao cinema roubar-nos. Uma intimidade verdadeira, em que a pornografia não se atreve a entrar. Uma intimidade verosímil, possível, sem as conversas trabalhadas, pseudo-realistas ou românticas de que qualquer filme acaba sempre por ser feito.
Este panorama, adornado pelo toque humorístico, pela incrível cumplicidade do elenco e pela banda sonora (verdadeiramente original) fazem deste filme, como alguém já disse, um “ovni” na sétima arte estreada em 2007. E não tenho dúvidas de que é um risco e um arrojo propor o visionamento de SHORTBUS a toda a gente. Eu próprio fui forçado a rever a minha tolerância e o meu espírito crítico por causa deste filme. Mas atrevo-me, e escrevo a célebre expressão: aconselho vivamente.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Diz que é uma espécie de queixa


De acordo com o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, um estágio é: um período de trabalho por tempo determinado para formação e aprendizagem de uma prática profissional.


O que falta na entrada é tão somente isto:


Tempo de aproveitamento louco e indigno do ser que estagia; período de tempo em que o ser que estagia lida com um grande número de pessoas insensíveis ao facto de que são muitas, e que, devido ao facto de trabalharem todas de maneira independente, obrigam o ser estagiário a ter que cumprir muitas diligências ao mesmo tempo; período de tempo em que o facto de muitas diligências não conseguirem ser cumpridas ao mesmo tempo resulta indubitavelmente da incompetência do ser estagiário; período de tempo em que mil acções, bem como os mil pensamentos que lhes sucedem devem ser feitos na mesma fracção de segundo, sendo que o contrário indica falta de maturidade, interesse ou organização; período de tempo em que o ser estagiário é relembrado de que não passa de um ser estagiário, e logo, não merece o mesmo trato que o ser já não estagiário; período de tempo em que o ser estagiário é chamado a provar que não merece ser tratado como ser estagiário, através de trabalho contínuo e imparável...[e assim sucessivamente, voltando ao início deste parágrafo e continuando]

domingo, 9 de dezembro de 2007

"Quien no ha visto Graná, no ha visto ná"


Eu já vi. Há um ano atrás. E fui conquistado.
Título: ditado andaluz

sábado, 8 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - IV

EL LABERINTO DEL FAUNO

Guillermo del Toro assina uma das produções mais fascinantes dos últimos anos. Fascinante porque mostra aquilo a que vulgarmente chamamos de imaginação, como se de uma antiga tradição (ou mesmo um mito!) se tratasse, como uma realidade objectiva ao alcance de todos nós. Irónico? Contraditório? Talvez. Mas não será a imaginação uma ironia? Se não, porque é que somos chamados a viver, e, ao mesmo tempo, a necessitar de viver outros mundos dentro das nossas cabeças?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - III

Cara Gabriela Mistral, "As vidas dos Outros" mereceria sem dúvida ser o filme número um... se o tivesse visto pela primeira vez este ano. Vi o filme ainda em Leipzig, em Março de 2006 (se não estou em erro), e só por isso é que não o incluí aqui. Muito a propósito, o terceiro filme desta rubrica é também alemão, e é protagonizado também por Ulrich Mühe, actor que dá vida a Gerd Wiesler (agente que vigia a dupla amorosa em "A Vida dos Outros"). Para choque de todos, o actor faleceu este Verão na Alemanha, vítima de um cancro no estômago.
Em "Mein Führer" veste a pele de um judeu a quem Hitler pede ajuda para o recuperar da depressão em que se encontra por ver o país a ser devastado, e ao qual incumbe a tarefa de escrever o famoso discurso de Janeiro de 1945, em que Hitler surgiu proclamando a força inquestionável do Reich, apesar de o país estar praticamente vencido.
A comédia suscitou alguma polémica na Alemanha, como já se esperava. A experiência de ver este filme numa sala de cinema em Leipzig (em Fevereiro deste ano) foi extremamente oportuna. Na própria sessão a que eu fui, assisti a pessoas a morrerem de riso, outras a protestarem, e outras simplesmente pasmando, com certeza questionando: "Já é suposto eu rir-me disto? Ou ainda é muito cedo?"
"Mein Führer - A mais verdadeira das verdades sobre Adolf Hitler" é uma provocação imperdível, e que espero ainda poder ver estrear nas nossas salas.
Peço desculpa pelo trailer sem legendas, mas foi o único que encontrei.

Coisas que um professor deve saber

"É sempre mau perguntar, porque pode haver resposta."

Álvaro de Campos in Aviso por causa da moral, Fernando Pessoa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Presunção

Será que todas aquelas pessoas aos saltos e de mãos no ar têm noção de que as palavras alemãs que tentam trautear nesta música exprimem um dos poemas mais belos e comovedores que os Rammstein já escreveram?

Chamem-me louco, mas arrepio-me de cada vez que ouço isto.

Ver tradução para inglês (que não me satisfaz absolutamente nada, mas é a mais fiável,ainda assim) aqui:

http://herzeleid.com/en/lyrics/reise_reise/morgenstern

Os meus filmes do ano - II

SOPHIE SCHOLL - os últimos dias

O filme é de 2005, apesar de o ter visto pela primeira vez este ano. Sophie Scholl é uma das heroinas alemãs do século XX, tendo pertencido ao movimento "Rosa branca" ("Weisse Rose"), formado em 1942, que se insurgiu contra o regime do Terceiro Reich. A minha homenagem dirige-se mais especificamente à própria Sophie Scholl do que ao filme que retrata os seus últimos dias, em que ela e o irmão são capturados quando tentam lançar folhetos anti-nazis na Universidade de Munique, acabando por ser condenados à morte.
A força incrível da jovem, tão bem revivida por Julia Jentsch, é simplemente impressionante. Grande parte do filme centra-se nos interrogatórios feitos a Sophie por funcionários nazis, e são baseados em transcrições dos interrogatórios originais. A resistência mostrada por Sophie é extenuante, e deixa-nos em pulgas por um final vitorioso, que de antemão sabemos não ter existido.
É justa a homenagem a Sophie Scholl, e é dolorosa a sensação de que a jovem é a única que vê a situação do seu país com os mesmos olhos com que nós vemos agora todo o fenómeno do nazismo. Uma solitária, que em conjunto com os pares do seu movimento, tenta abrir os olhos a um país convencido de que o clima de terror e guerra é uma consequência natural do seu poder nato, e logo, aceitável.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os meus filmes do ano - I

Pela prestação soberba do elenco, pelo despretensiosismo, pelo incómodo, pela banda sonora, pelo título, pelo que cresci ao ver este filme.

"A vida secreta das palavras" (de Isabel Coixet)foi provavelmente o filme que mais me marcou em 2007.