domingo, 27 de abril de 2008

"Filha de duas mães"

Apesar de não ser um grupo que me chamasse a atenção até agora, tenho que reconhecer que este primeiro single do novo álbum d'A Naifa me ficou no ouvido desde a primeira vez em que o ouvi.
Um raio de luz na música portuguesa quando a tendência parece ser idolatrar artistas portugueses que cantam em Inglês sempre as mesmas rimas pré-feitas para as quais já não há paciência: "Come with me/I'm gonna set you free"; "Up and down/I'm gonna hit the ground". (Rita Redshoes, BAZA!!) E parem de tratar a língua inglesa como recurso ÚNICO para adornar melodiazinhas, usando-a quando bem vos apetece só para debitar merdas sem conteúdo nenhum, sob uma capa de modernice provinciana, de que está dotado muito do que é feito em Portugal nos últimos anos e que é adorado somente por ser em língua inglesa.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Mundial do Livro


O livro que estou a ler é “O idiota”, de Dostoiévsky. Confesso que nunca tinha conseguido ler nenhuma obra do autor, porque desistia sempre ao fim das primeiras páginas, parecendo-me ser demasiados nomes russos em catadupa para memorizar e associar a um enredo que ia nascendo através da escrita detalhada, realista, contra a qual, ainda por cima, se insurgia o meu preconceito parido pela leitura de Eça, cujas obras, a partir de um determinado momento, se me afiguravam como uma espécie de fofoca next door em forma literária.
Há uns dias atrás lá tomei a decisão de pegar num livro do autor russo, e começar a lê-lo, sem pretensões de chegar ao fim mas sem deixar que o preconceito anti-escrita realista prevalecesse.
As 600 e tal páginas são, seguramente, um desafio. O último romance destas dimensões que terei lido foi com certeza alguma obra do Eça. A diferença é que Dostoiévsky não é chato. E por chato entendo o seguinte: descrições enormes de lugares, pessoas ou acções, que lemos como se nos apetecesse mesmo ler, só porque sabemos que são fruto de uma corrente literária que assim o defendia; isto é, lemos Eça artificialmente, conscientemente desculpando as infinitas descrições porque sabemos que é realista.
O que mais me está a fascinar n’O Idiota é a facilidade com que podemos seguir a narrativa, parando quando bem nos apetecer, já que os capítulos são surpreendentemente curtos (10 a 15 páginas cada um). As personagens de nome russo são fáceis de memorizar, apesar de serem muitas, exactamente pela particularidade de serem russos, logo desconhecidos, e, inconscientemente, associamos, por exemplo, Nastássia Filíppovna a uma cara, e Ívan Fiódorovitch Epantchin a outra. Seria pior se tivéssemos à nossa frente um romance desta extensão e com tantas personagens, e cujos nomes fossem Manuela, Maria ou João.
Outra característica da escrita de Dostoiévsky é a fina ironia, e a densidade e veracidade dos diálogos entre as personagens. Não há, por assim dizer, conversa mole. Não há momentos mortos, suaves, puramente destinados à transição entre partes ou mudança de lugares de acção. Não. Os diálogos são brutos, frios, demasiado imperfeitos para serem realistas. É esta imperfeição, existente nas entrelinhas, no que não é dito, nos “apartes”, por assim dizer, que o autor vai introduzindo, que conferem um certo deleite adolescente à leitura deste romance.
Uma leitura leve, tranquila, relaxada. Uma boa forma de ler alguma coisa mais chegada à terra, sem grandes pensamentos metafísicos, abstraccionismos exigentes, ou pretensões filosóficas transcendentais, mas que também não é supérflua ou estupidificante.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Manu Chao - Me Llaman Calle

Porque a vida devia ser sempre tão leve e despreocupada como uma canção latina.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Elogio às ceifeiras


“Las ideas no duran mucho, hay que hacer algo con ellas”
(Santiago Ramón y Cajal, médico espanhol)

Saio de casa. As pedras de granizo esbarram-se contra o pára-brisas, e reparo nos rios de água a correr pela minha rua abaixo. Penso ‘estou atrasado que merda de tempo que pouca disposição para ir para a escola’.
O caminho é feito com dificuldade. Há meteoritos de gelo a cair no meu pára-brisas e a sair centésimas de segundo depois disparados pelo limpa-pára-brisas. Penso ‘que confortável ter que fazer o meu caminho diário a 20 km/h como que protegido por um cobertor de partículas geladas que tipo uma atmosfera me protegem embora eu esteja perfeitamente imune à sua temperatura visto ir tranquilamente dentro do meu carro (atrasado) a ouvir o meu cd que toca toca toca e eu não me farto de o ouvir embora fosse mais lógico prestar atenção ao que os locutores da rádio dizem sobre os distritos em alerta laranja no dia de hoje’.
Vejo a estação de comboios à minha esquerda, e em 5 segundos a chuva já não existe, nem o granizo, nem o dilúvio. Seria uma nuvem.
Chego à escola. Os parques de estacionamento fora do recinto escolar estão cheios de carros, talvez de professores, talvez de alunos (muitos também têm), talvez de gente que veio visitar a feira (fazer compras com partículas de gelo a cair-nos em cima tem que ser uma experiência alucinante).
Entro com o carro na escola pela primeira vez e chego atrasado.
A sala dos professores é confortável. Penso ‘e se os alunos tivessem uma sala dos alunos que fariam dela será que a usavam? será que era injusto era mimá-los? era ser escola facilitista pouco dada à demonstração de autoridade?’
Estão à minha espera. Começamos a labuta.
Depois de uma luta incansável para terminar a tarefa proposta, fico finalmente livre. Há que trabalhar mais, mas a disposição não deixa. Converso. Almoço.
A tarde começa, e o tempo não está melhor. Penso ‘vou ver o meu mail olha lá estão os profs a falar sobre a ministra o acordo o estatuto as injustiças o que a X disse o que a Y pensa’, abro jornais portugueses, vou ver a parte do cinema, e vejo que não há filmes que me interessem. Penso ‘vou ver um jornal alemão já não vejo há muito tempo olha um artigo sobre Zapatero feminista’. Leio e o autor do artigo pergunta “que se passa no sul?”, já que na Itália temos um crente na força intelectual masculina e em Espanha (país berço do conceito de “machismo”) um crente na força intelectual feminina. Penso ‘e Portugal aqui onde fica se o autor falasse no nosso país que diria? ou se calhar não diria nada não há nada para dizer deste país está aqui como poderia não estar e os profs continuam a falar do estatuto’. Junta-se entretanto uma equipa expressiva de aficionados da temática o-novo-estatuto-é-uma-grandessíssima-bosta-e-esta-ministra-não-caiu-porque-isso-acontecendo-o governo-caía-junto-com-ela, e já não me consigo concentrar na leitura do artigo sobre Zapatero feminista, porque está em alemão, língua exigente no que diz respeito à concentração durante a leitura.
Saio, atravesso a multidão que parla, e vou assistir à aula de uma colega.
Durante a aula, atravessam-me pensamentos infindáveis sobre a actividade docente, e penso que é uma profissão fascinante. Salvaguardo aqui a minha opinião de que o adjectivo “fascinante” tem muito mais que se lhe diga do que simplesmente “derivado do nome (ou substantivo, em versão pré-TLEBS) 'fascínio'", já que um fascínio pode ser uma coisa boa ou má. Os feitiços são uma forma de fazer com que as pessoas fiquem fascinadas por determinada coisa. E a partir deste pensamento sacado da manga, a discussão pode seguir variadíssimas direcções, se pensarmos tão-somente no amor, feitiço mais do que evidente, e que pode ser considerado bom ou mau. Depende da disposição, e a minha hoje está como a do tempo. Se falar nisto, dispararei, qual limpa-pára-brisas, partículas de mau humor que podem gelar alguém.
No fim da aula, penso ‘tenho vontade de escrever não sei exactamente o quê mas é preciso aproveitar estes momentos como dizia aquele homem que a mulher espanhola citou no congresso las ideas no duran mucho hay que hacer algo con ellas por falar nisso tenho que ver quem foi’. Ao chegar a casa reparo que Ramón y Cajal, autor da frase, não foi um escritor, mas sim um médico e histologista espanhol (e vou ver o que faz exactamente um histologista e aprendo que estuda os tecidos biológicos, a sua estrutura, formação e função).
Penso ‘que cena mais Virginia Woolf pôr-me a escrever o meu dia será que ela pensava nestas cenas claro que não alta estupidez ela era génio demais para isso para ter razões tão altamente pequenas para escrever’, e utilizo a palavra génio numa conversa virtual com um que eu conheço, e chego aqui a este ponto em que tudo me parece incrivelmente absurdo e em que a existência se me desenha difícil, ridícula e grande demais para se poder escrevinhar sequer uma ínfima parte dela num texto notoriamente ficcional, pelas palavras que escolhi, seleccionei e pensei, em vez daquelas que poderia ter escolhido, seleccionado e pensado.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Lhasa

de cara a la pared

La casa

"Verán libros amontonados y sin orden.
Muy leídas, las novelas de Joaquín Belda
asustarán a alguno. No hallarán diario
ni sublimes escritos con intimidades.
No hay cuadros en el cuarto. No hay otra ilusión
más allá de un bolígrafo que aún escriba,
un sobre, un sello. Y cuando busquen cartas
verán sólo viejos recortes de periódico.
Los cuadernos que me regalaron en Málaga.
Pésimas fotografías de familia. Once
versos casuales de un soneto inexistente.
Y un racimo de razones para el olvido.
Cuando abandone la casa el último día
poca vida más encontrarán en ella."
(José Ángel Cilleruelo, poeta espanhol, in "Antología")

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O poeta, Chagall
Oficializo hoje aqui a minha entrada em período de reflexão sobre o que fazer da minha vida a partir de agora. Novidades em breve...

terça-feira, 8 de abril de 2008

MADRID CONGELA

Interessante iniciativa. Ver aqui.

Perspectivas

"a fail to kiss is a fail to cope"

(Fiona Apple, Paper Bag)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

- Come!
All the seas of the world tumbled about her heart. He was drawing her into them: he would drown her. She gripped with both hands at the iron railing.
- Come!
No!No!No! It was impossible. Her hands clutched the iron in frenzy. Amid the seas she sent a cry of anguish!
- Eveline! Evvy!
He rushed beyond the barrier and called to her to follow. He was shouted at to go on but he still called to her. She set her white face to him, passive, like a helpless animal. Her eyes gave him no sign of love or farewell or recognition.

(palavras finais de "Eveline", Dubliners, James Joyce)