terça-feira, 8 de julho de 2008

O céu, cor de aço, suscitava apreensão da parte de quem, como Nuno, nunca possuíra guarda-chuva. E o vento agitava desoladoramente as mesmas tílias cujo perfume, três meses antes, marcara o início da história com Vicente: um cheiro enebriante e sensual, que despertava, no entanto, a vontade incontrolável de desatar num pranto infantil. Pois, nesse início de Junho, à medida que as tílias floriam e chegavam ao auge do seu pefume, Nuno tinha vindo a sentir-se cada vez mais frágil, mais vulnerável a tudo o que o pudesse ferir, pelo simples facto de, finalmente, se ter querido abrir sem reservas a algo que o pudesse fazer feliz.
Mas se esse "algo" era a terra prometida da emoção, a sensualidade ansiosa de todo esse período - longe de se revelar o tapete mágico de que Nuno estava à espera... e a despeito (o que não deixava de ser estranho) da aura de propulsão que aparentemente a caracterizava; a sensualidade, pois, que se manifestara, até há bem pouco tempo, eriçada dos espinhos da santidade e do pecado, mas que Nuno abraçava, agora, de olhos abertos - não. Não era aí que residia o essencial do problema. O problema era que, no troço que agora pisava rumo à terra prometida, todos os dias assomava um cruzamento. E à semelhança da criança que, por não ter comido a sopa ao almoço, se vê novamente confrontada com a mesma sopa ao jantar, o cruzamento a enfrentar era, há três meses, igual.



(in Pode um desejo imenso, Frederico Lourenço)


e fechámos para férias (e obras), blogue e eu. o blogue encerra aqui de vez. eu hei-de dar notícias.

boas férias. get stupid.

domingo, 6 de julho de 2008

da vida como montanha-russa

faltam 14 dias para um acontecimento triste.

faltam 22 dias para um acontecimento alegre.

terça-feira, 1 de julho de 2008

¡Champiñones, Champiñones, somos Champiñones!

Por esto nos encanta Ejpaña.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

narciso, ting tings & shortbus

Sinto traços de descompensação a vários níveis a anteporem-se à minha típica capacidade de raciocínio lógico e invasor. Não sei se boa, má ou regular, esta ânsia de querer viver um minuto como se fosse um segundo na medida temporal de um pensamento positivo. Parece-me bem estar por vezes a ponto de explodir narcisicamente mil malmequeres de dentro do meu cérebro para alguma parte que os receba sem medo ou sorriso, mas caio de tanto fulgor mental, físico e estratégico, para meio de um chão que, no entanto, não é duro e sujo, mas sim rosa, amarelo, laranja, e outras cores tais, reveladoras de um estado de perturbação positiva que urge desenvolver e alimentar, especialmente nesta cabeça tão pouco dada a espontaneidades, que de tantas que começam a ser me começam a tirar de mim. Eu disse, eu disse, não é saudável estar feliz. Mas se se está, há mais é que obrigar a estar-se mais ainda. Até todo o cantinho existente no mais pequeno recanto de mim estar cheio e a querer disparar felicidade para todo o lado e para todos para se aliviar. E só por isso. Não por gosto na partilha.

memoirs of a splendid night

quinta-feira, 26 de junho de 2008

candidatei-me às primárias. devo preocupar-me?

"Não é raro" chegarem aos hospitais, nesta altura do ano, crianças com sete, oito ou nove anos em coma alcoólico, devido aos festejos de final do ano escolar. A afirmação é da ministra da Saúde, Ana Jorge, que falava, ontem, à margem do Fórum Nacional sobre o Álcool, que decorreu em Coimbra.
(DN, hoje)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

i do feel like dancing

The Ting Tings

That's not my name

terça-feira, 24 de junho de 2008

boa tirada

"alles verändert sich nur mit dem Blick eines Unbekannten".

(meu)

roubei à Bruna a foto que prova quão orgulhosos andamos do nosso berço e das maravilhas que o nosso país tem para dar. Aqui estamos nós sorrindo, não pela ausência da Mistral, mas porque nos encontrávamos em estado de elevação, provocada pelos maravilhosos coros que entoavam do outro lado do rio, que teríamos ouvido mais de perto não fosse a existência de um obstáculo intransponível há séculos, a ponte romana (práibate jouque).

sobe sobe balão sobe





e subiu, sobrevoando a cidade. no porto nada é impossível. só mesmo que o são joão se repita mais vezes ao ano, e da mesma forma que a noite e madrugada passadas.












sábado, 21 de junho de 2008

chegou o Estio

MAU - Cum Sexy Cum

Grande música, grande vídeo, grande mood.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

do europeu de futebol


Sim, a partir de agora vou torcer pela Alemanha. Se até agora torcia pelos dois países (Portugal e Alemanha) e o primeiro foi eliminado, pois está claro que continuo a torcer pelo que continua em competição.


E aos deprimidinhos pela derrota da selecção de futebol só posso dizer que vejam este link, que descobri através do mictório luzidio.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Barcelos, dia de feira

Tenho a auto-estima em alta. Fui assediado por uma senhora de uns 90 anos de idade, agarrada a uma muleta, com poucos dentes restantes, mas extremamente simpática.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Diários passados / Vergangenes Tagebuch


An Ester, Tereza, Jose Vilches und Jose Patricio gewidmet


9. Juni 2006, Krakau, Polen


Vor 22 Jahren wurde ich geboren. Diesen Geburtstag habe ich in Krakau verbracht. Der Tag hat gegen 9 Uhr angefangen. Sie haben mir alle Glück gewünscht, und mir das Geschenk von Pablo gegeben. Das Wetter war super heiss, so Ester und Tereza haben sich ihre Röcke angezogen. In einem Mini-Bar, den wir in einer Ecke gefunden haben, nahm ich mein erstes Frühstück meines neuen Lebenjahres. Als wir herauskamen, regnete es viel, so die Mädchen waren sehr überrascht. Jose sagte ,,Pringaden!!"
Nächstens besuchten wir die Altstadt. Das Wetter immer gut-schlecht, schlecht-gut. In der Burg gab es verschiedene Teile: die Kathedral, die königliche Zimmer, usw. Nichts war kostenlos, aber mindestens in die Kathedral sind wir einfach reingegangen, ohne nichts bezahlt zu haben. Und niemand nahm uns fest.
In dieser Stadt gibt es eine riesige, unglaubliche Zahl von Tauben und Kinder. Wir bewunderten uns, ob es heute Feiertag war, weil die Schlangen mit Schülern, von ihren Monitoren begleitet, sehr merwürdig waren.
In einem Garten spielten einige dieser Schüler traditionelle Spielen.
Jose und Ester waren davon begeistert und schrien, eine Mannschaft oder die andere zu unterstützen.
Einer der Lehrer hat uns gefragt, ob wir Italiener waren. Wir haben ihm erklärt woher wir kommen, und am Ende fragten wir nach einen guten Ort, wo man etwas Typisches essen könnte.
Wir haben seine Empfehlung angenommen, und sind in dieses Restaurant hingegangen.
Da schien die Welt schneller zu laufen als draussen.
Die Menschen sassen, bestellten was sie gern essen mochten, nach 2 oder 3 Minuten brach die Kellnerin das Essen zum Tisch, sie assen alles, gingen weg, bezahlten, und das alles so schnell, dass wir fast keine Zeit hatten, die Gesichter zu speichern, von den Leuten die neben uns hinsassen.
Wir nahmen sehr gern unsere Pierogi (Ravioli), begleitet von einem Kompott von Früchten, und machten unseren Besuch weiter. Wir erkündigten uns um den Plan der Zügen zum Flughafen und kauften ein Eis.
Das Zentrum Krakaus ist sehr schön. Der zentraler Platz hat uns sehr gut gefallen. Viele Touristen wanderten da, zusammen mit den Kindern und Tauben.
Am Abend wollten die Mädchen einkaufen gehen. Die Jungen suchten einen Bar, wo wir uns das Eröffnungsspiel der Weltmeisterschaft anschauen könnten. Deutschland gewann 4-2 gegen Costa Rica.
Die Kneipe, verdächtigten wir, war ein luxuriöses, teures Schlampenhaus. Wir haben es nicht bemerkt, so sind wir da geblieben, und schauten uns dort das Spiel an.
Während Ester auf mich vor dem Klo wartete, versuchten einige Amerikaner etwas mit ihr zu unternehmen. Vielleicht wegen ihrem Dekolletee ist das Missverständnis geschehen.
Das Abendessen hatten wir in Pizza-Hut, und jetzt sind wir in unserem Zimmer. Morgen fahren wir nach Berlin zurück. Jose hat vor 15 Minuten etwas von seiner Familie erzählt, hauptsächlich von seiner Tante und ihren Verhältnissen...
Und so war mein Geburtstag. Ich bin sehr müde, und freue mich wir fahren morgen nach Hause.
Und ich bin jetzt 1 Jahr älter als gestern...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Egalité!


Do lado de cá discute-se o Acordo Ortográfico. Em Espanha discutem-se particularidades linguísticas muito mais à frente: a ministra da Igualdade, Bibiana Aído, propõe que passe a existir a palavra "miembra" (que seria o feminino da palavra "miembro") para classificar um "membro" que seja do sexo feminino. Para quem tinha dúvidas sobre se este Ministério ia mesmo servir para alguma coisa, aí fica a resposta.

Reportagem no El País.
Blog da própria ministra aqui. (Todos os ministros deviam ter um blog. Pode parecer chachada, mas, nem que fosse tudo uma farsa, ao menos saberíamos que perdiam aquele bocadinho de tempo a pensar em alguma coisa relacionada com aquilo que fazem)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Thank You Euro Cup


Não acham estranho que com o calor que se tem sentido não tenha havido ainda nenhum incêndio em Portugal?

O Europeu une todos os Portugueses (incendiários inclusive).

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fez-se luz

É grave só pensar agora (numa simples conversa de msn) concretamente nisso - isto é, conscientemente sentir que sim, que é facto, que aconteceu, que é a vida a mexer, e eu sem dar por isso -, que fiz 23 anos?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Subscrevo

O que Francisco José Viegas diz sobre a selecção.

So is life, and so funny II

Perda

sobre

Perda.


Pedra

sobre

Pedra.



( Caderno, Adília Lopes)

So is life, and so funny

"King: Now, Hamlet, where's Polonius?
Hamlet: At supper.
King: At supper! Where?
Hamlet: Not where he eats, but where he is eaten."

(Hamlet, Shakespeare)

sábado, 31 de maio de 2008

ESTAGIUS FINITUS EST

mORtO E eNTerraDO.


Perguntem-me se gostei no dia 31 de Maio de 2009.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Ninguém me tira da cabeça que o “Ensaio sobre a Cegueira” do Saramago e “O Processo” do Kafka constituem o mais claro exemplo de intertextualidade da história da literatura. Por que me lembrei disto agora?

Ou é da chuva fora de tempo, ou acho que a própria vida é um Joseph K. cego.

terça-feira, 27 de maio de 2008


Futures - Zero 7 Feat Jose Gonzalez


Chegar a casa e saber que tenho o mundo nas minhas mãos.
Saber que isto é suficiente para enfrentar dia após dia as cabeças quadradas que a maldita rotina me pôs no caminho.
Saber que as cabeças quadradas transformam a escola num quadrado infinito, sem saídas possíveis.
O fim aproxima-se, para meu regozijo.

Só o futuro vale a pena.


Well do you see
The futures holidays are for me
Just let me know
Where we go after the fall

domingo, 25 de maio de 2008

easy like sunday morning


Después de un tiempo,

Uno aprende la sutil diferencia

Entre sostener una mano y encadenar un alma

Y uno aprende que el amor no significa acostarse

Y una compañía no significa seguridad

Y uno empieza a aprender...

Que los besos no son contratos

Y los regalos no son promesas

Y uno empieza a aceptar sus derrotas

Con la cabeza alta y los ojos abiertos

Y uno aprende a construir todos sus caminos en el hoy,

Porque el terreno del mañana

Es demasiado inseguro para planes...

Y los futuros tienen una forma de caerse en la mitad.

Y después de un tiempo,

Uno aprende que si es demasiado,

Hasta el calorcito del sol quema.

Así que uno planta su propio jardín

Y decora su propia alma,

En lugar de esperar a que alguien le traiga flores.

Y uno aprende que realmente puede aguantar,

Que uno realmente es fuerte,

Que uno realmente vale,

Y uno aprende y aprende...


Y con cada día uno aprende.


(Jorge Luís Borges, Y uno aprende)



sexta-feira, 23 de maio de 2008










e sem mais nem medos








Vivo





(ao lado: Chagal, Enchantement)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ich habe mir ein Denkmal gebaut

"Construí um monumento para mim".

E sou mais feliz.

sábado, 17 de maio de 2008

The time has come.

domingo, 11 de maio de 2008

Enterro de Excelência II

HOJE - James

Enterro de Excelência I

HOJE - Linda Martini

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A lição


Faz hoje uma semana que Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, visitou a nossa escola, a convite de uma professora de Português de quem é amigo pessoal.

Fernando Ribeiro surge sereno, senta-se tranquilamente olhando a audiência de dezenas de miúdos à espera que dissesse as coisas mais extraodinárias que pensariam ouvir alguma vez no recinto escolar. À sua frente tem uma garrafa de água que confessa ser a bebida predilecta durante o dia, e refere o quão indispensável ela é para a saúde da sua garganta.

Fernando Ribeiro começa a falar, diz as coisas acertadas para um homem da sua geração e modo de vida que leva: quem idolatra, quem gosta de ouvir e ler, fala de Parménides e da pena que sente por já não se estudarem os filósofos pré-socráticos, fala de Kant e Nietzsche, e diz que a profissão com que sonhava era a profissão docente. Que era um rebelde estudioso, que todos sejam rebeldes estudiosos. Que estudou filosofia, mas que o estilo de vida que levava não os deixava dedicar-se o suficiente.

Fernando Ribeiro defende que os telemóveis sejam deixados à porta da sala de aula numa "bolsa dos valores", lê o primeiro poema que escreveu na folha amarrotada onde o escreveu originalmente e que o acompanha nas apresentações dos seus livros de poesia.

No início um grupo de alunos faz uma encenação de um dos seus poemas, um jogo de sombras, uma voz que se ouve, outra que quase não se ouve.

No fim, Fernando Ribeiro faz a ante-ante-estreia do novo videoclip dos Moonspell.


A tudo isto os alunos assistem serenos e sem ripostar. Estivemos naquela sala durante 2 horas.

O homem não disse nada de extraordinário. Simplesmente demonstrou ser culto, saber do que faz, entender imensamente de música e comprender perfeitamente "quem ouve estilos de música diferente e quem ouve metal e depois começa a ouvir transe".


Se houve alguma lição que Fernando Ribeiro deu, foi a da tolerância, a da serenidade, e a da necessidade de originalidade e vontade de ser diferente em detrimento da mera cópia de modelos.


Os mesmos alunos que fizeram o teatrinho inicial foram os mesmo que ouvi na fila atrás da minha chamarem filhos da puta aos que, "como Fernando Ribeiro disse", mudam de um dia para o outro de metal para transe.


terça-feira, 6 de maio de 2008

Fokyo

Hoje consegui o feito de dar a minha pior aula de sempre. Nada de preocupante, não estivesse o estágio à beira do final e esta ser uma das últimas aulas, o que, na eventualidade de se concretizar a teoria do "o mais recente é o que fica memorizado", é mau sinal para mim.
O que há de melhor depois de uma aula deste tipo é ter uma aula com o 9º ano, em que não somos nós a dá-la, mas estamos somente a assistir. Diverti-me imenso, e senti, por várias vezes, vontade de me sentar numa das mesas deles, e ser natural e irresponsável e despreocupado como eles. Tive inveja dos meus alunos, e tive inveja de não ter sido eu a notar que uma aluna escreveu Fokyo em vez de Tokyo no quadro, e tenho inveja de não ter sido eu a fazer piadas com a palavra. Ser um aluno de 9º ano seria a melhor Fokyo-attitude que eu poderia mostrar contra esta pressão toda que o estágio nos impõe. Depois da aula péssima que dei, e, apesar de nenhum dos alunos do 9º ano o saber, fui apenas mais um deles naquela aula, gozando o estatuto privilegiado no meu silêncio de professor observador.

domingo, 27 de abril de 2008

"Filha de duas mães"

Apesar de não ser um grupo que me chamasse a atenção até agora, tenho que reconhecer que este primeiro single do novo álbum d'A Naifa me ficou no ouvido desde a primeira vez em que o ouvi.
Um raio de luz na música portuguesa quando a tendência parece ser idolatrar artistas portugueses que cantam em Inglês sempre as mesmas rimas pré-feitas para as quais já não há paciência: "Come with me/I'm gonna set you free"; "Up and down/I'm gonna hit the ground". (Rita Redshoes, BAZA!!) E parem de tratar a língua inglesa como recurso ÚNICO para adornar melodiazinhas, usando-a quando bem vos apetece só para debitar merdas sem conteúdo nenhum, sob uma capa de modernice provinciana, de que está dotado muito do que é feito em Portugal nos últimos anos e que é adorado somente por ser em língua inglesa.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Mundial do Livro


O livro que estou a ler é “O idiota”, de Dostoiévsky. Confesso que nunca tinha conseguido ler nenhuma obra do autor, porque desistia sempre ao fim das primeiras páginas, parecendo-me ser demasiados nomes russos em catadupa para memorizar e associar a um enredo que ia nascendo através da escrita detalhada, realista, contra a qual, ainda por cima, se insurgia o meu preconceito parido pela leitura de Eça, cujas obras, a partir de um determinado momento, se me afiguravam como uma espécie de fofoca next door em forma literária.
Há uns dias atrás lá tomei a decisão de pegar num livro do autor russo, e começar a lê-lo, sem pretensões de chegar ao fim mas sem deixar que o preconceito anti-escrita realista prevalecesse.
As 600 e tal páginas são, seguramente, um desafio. O último romance destas dimensões que terei lido foi com certeza alguma obra do Eça. A diferença é que Dostoiévsky não é chato. E por chato entendo o seguinte: descrições enormes de lugares, pessoas ou acções, que lemos como se nos apetecesse mesmo ler, só porque sabemos que são fruto de uma corrente literária que assim o defendia; isto é, lemos Eça artificialmente, conscientemente desculpando as infinitas descrições porque sabemos que é realista.
O que mais me está a fascinar n’O Idiota é a facilidade com que podemos seguir a narrativa, parando quando bem nos apetecer, já que os capítulos são surpreendentemente curtos (10 a 15 páginas cada um). As personagens de nome russo são fáceis de memorizar, apesar de serem muitas, exactamente pela particularidade de serem russos, logo desconhecidos, e, inconscientemente, associamos, por exemplo, Nastássia Filíppovna a uma cara, e Ívan Fiódorovitch Epantchin a outra. Seria pior se tivéssemos à nossa frente um romance desta extensão e com tantas personagens, e cujos nomes fossem Manuela, Maria ou João.
Outra característica da escrita de Dostoiévsky é a fina ironia, e a densidade e veracidade dos diálogos entre as personagens. Não há, por assim dizer, conversa mole. Não há momentos mortos, suaves, puramente destinados à transição entre partes ou mudança de lugares de acção. Não. Os diálogos são brutos, frios, demasiado imperfeitos para serem realistas. É esta imperfeição, existente nas entrelinhas, no que não é dito, nos “apartes”, por assim dizer, que o autor vai introduzindo, que conferem um certo deleite adolescente à leitura deste romance.
Uma leitura leve, tranquila, relaxada. Uma boa forma de ler alguma coisa mais chegada à terra, sem grandes pensamentos metafísicos, abstraccionismos exigentes, ou pretensões filosóficas transcendentais, mas que também não é supérflua ou estupidificante.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Manu Chao - Me Llaman Calle

Porque a vida devia ser sempre tão leve e despreocupada como uma canção latina.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Elogio às ceifeiras


“Las ideas no duran mucho, hay que hacer algo con ellas”
(Santiago Ramón y Cajal, médico espanhol)

Saio de casa. As pedras de granizo esbarram-se contra o pára-brisas, e reparo nos rios de água a correr pela minha rua abaixo. Penso ‘estou atrasado que merda de tempo que pouca disposição para ir para a escola’.
O caminho é feito com dificuldade. Há meteoritos de gelo a cair no meu pára-brisas e a sair centésimas de segundo depois disparados pelo limpa-pára-brisas. Penso ‘que confortável ter que fazer o meu caminho diário a 20 km/h como que protegido por um cobertor de partículas geladas que tipo uma atmosfera me protegem embora eu esteja perfeitamente imune à sua temperatura visto ir tranquilamente dentro do meu carro (atrasado) a ouvir o meu cd que toca toca toca e eu não me farto de o ouvir embora fosse mais lógico prestar atenção ao que os locutores da rádio dizem sobre os distritos em alerta laranja no dia de hoje’.
Vejo a estação de comboios à minha esquerda, e em 5 segundos a chuva já não existe, nem o granizo, nem o dilúvio. Seria uma nuvem.
Chego à escola. Os parques de estacionamento fora do recinto escolar estão cheios de carros, talvez de professores, talvez de alunos (muitos também têm), talvez de gente que veio visitar a feira (fazer compras com partículas de gelo a cair-nos em cima tem que ser uma experiência alucinante).
Entro com o carro na escola pela primeira vez e chego atrasado.
A sala dos professores é confortável. Penso ‘e se os alunos tivessem uma sala dos alunos que fariam dela será que a usavam? será que era injusto era mimá-los? era ser escola facilitista pouco dada à demonstração de autoridade?’
Estão à minha espera. Começamos a labuta.
Depois de uma luta incansável para terminar a tarefa proposta, fico finalmente livre. Há que trabalhar mais, mas a disposição não deixa. Converso. Almoço.
A tarde começa, e o tempo não está melhor. Penso ‘vou ver o meu mail olha lá estão os profs a falar sobre a ministra o acordo o estatuto as injustiças o que a X disse o que a Y pensa’, abro jornais portugueses, vou ver a parte do cinema, e vejo que não há filmes que me interessem. Penso ‘vou ver um jornal alemão já não vejo há muito tempo olha um artigo sobre Zapatero feminista’. Leio e o autor do artigo pergunta “que se passa no sul?”, já que na Itália temos um crente na força intelectual masculina e em Espanha (país berço do conceito de “machismo”) um crente na força intelectual feminina. Penso ‘e Portugal aqui onde fica se o autor falasse no nosso país que diria? ou se calhar não diria nada não há nada para dizer deste país está aqui como poderia não estar e os profs continuam a falar do estatuto’. Junta-se entretanto uma equipa expressiva de aficionados da temática o-novo-estatuto-é-uma-grandessíssima-bosta-e-esta-ministra-não-caiu-porque-isso-acontecendo-o governo-caía-junto-com-ela, e já não me consigo concentrar na leitura do artigo sobre Zapatero feminista, porque está em alemão, língua exigente no que diz respeito à concentração durante a leitura.
Saio, atravesso a multidão que parla, e vou assistir à aula de uma colega.
Durante a aula, atravessam-me pensamentos infindáveis sobre a actividade docente, e penso que é uma profissão fascinante. Salvaguardo aqui a minha opinião de que o adjectivo “fascinante” tem muito mais que se lhe diga do que simplesmente “derivado do nome (ou substantivo, em versão pré-TLEBS) 'fascínio'", já que um fascínio pode ser uma coisa boa ou má. Os feitiços são uma forma de fazer com que as pessoas fiquem fascinadas por determinada coisa. E a partir deste pensamento sacado da manga, a discussão pode seguir variadíssimas direcções, se pensarmos tão-somente no amor, feitiço mais do que evidente, e que pode ser considerado bom ou mau. Depende da disposição, e a minha hoje está como a do tempo. Se falar nisto, dispararei, qual limpa-pára-brisas, partículas de mau humor que podem gelar alguém.
No fim da aula, penso ‘tenho vontade de escrever não sei exactamente o quê mas é preciso aproveitar estes momentos como dizia aquele homem que a mulher espanhola citou no congresso las ideas no duran mucho hay que hacer algo con ellas por falar nisso tenho que ver quem foi’. Ao chegar a casa reparo que Ramón y Cajal, autor da frase, não foi um escritor, mas sim um médico e histologista espanhol (e vou ver o que faz exactamente um histologista e aprendo que estuda os tecidos biológicos, a sua estrutura, formação e função).
Penso ‘que cena mais Virginia Woolf pôr-me a escrever o meu dia será que ela pensava nestas cenas claro que não alta estupidez ela era génio demais para isso para ter razões tão altamente pequenas para escrever’, e utilizo a palavra génio numa conversa virtual com um que eu conheço, e chego aqui a este ponto em que tudo me parece incrivelmente absurdo e em que a existência se me desenha difícil, ridícula e grande demais para se poder escrevinhar sequer uma ínfima parte dela num texto notoriamente ficcional, pelas palavras que escolhi, seleccionei e pensei, em vez daquelas que poderia ter escolhido, seleccionado e pensado.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Lhasa

de cara a la pared

La casa

"Verán libros amontonados y sin orden.
Muy leídas, las novelas de Joaquín Belda
asustarán a alguno. No hallarán diario
ni sublimes escritos con intimidades.
No hay cuadros en el cuarto. No hay otra ilusión
más allá de un bolígrafo que aún escriba,
un sobre, un sello. Y cuando busquen cartas
verán sólo viejos recortes de periódico.
Los cuadernos que me regalaron en Málaga.
Pésimas fotografías de familia. Once
versos casuales de un soneto inexistente.
Y un racimo de razones para el olvido.
Cuando abandone la casa el último día
poca vida más encontrarán en ella."
(José Ángel Cilleruelo, poeta espanhol, in "Antología")

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O poeta, Chagall
Oficializo hoje aqui a minha entrada em período de reflexão sobre o que fazer da minha vida a partir de agora. Novidades em breve...

terça-feira, 8 de abril de 2008

MADRID CONGELA

Interessante iniciativa. Ver aqui.

Perspectivas

"a fail to kiss is a fail to cope"

(Fiona Apple, Paper Bag)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

- Come!
All the seas of the world tumbled about her heart. He was drawing her into them: he would drown her. She gripped with both hands at the iron railing.
- Come!
No!No!No! It was impossible. Her hands clutched the iron in frenzy. Amid the seas she sent a cry of anguish!
- Eveline! Evvy!
He rushed beyond the barrier and called to her to follow. He was shouted at to go on but he still called to her. She set her white face to him, passive, like a helpless animal. Her eyes gave him no sign of love or farewell or recognition.

(palavras finais de "Eveline", Dubliners, James Joyce)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Da subtileza

Também amo os teus panfletos. Reparei hoje.

sábado, 29 de março de 2008

Aus Deutschland

EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN NA CASA DA MÚSICA - 3 de Maio

"Grande referência do rock industrial, a banda alemã Einstürzende Neubauten marca esta edição do Clubbing [3 de Maio] com a apresentação do seu último álbum, Alles Wieder Offen. Ao longo de 28 anos de uma carreira iniciada em Berlim Ocidental, surpreendeu nos anos 80 pela abordagem anti-pop e pela mensagem apocalíptica - com o primeiro álbum Kollaps. Mas o carácter experimental da sua música não os manteve presos ao passado, voltando-se para as canções ou para a música de cena e ocupando um lugar definitivo na cultura pop contemporânea." (Site Casa da Música)

Em cima - "Stella Maris", que não é tipicamente "Einstürzende Neubauten", mas é "a mais bela das canções de amor alemãs" (palavras de uma alemã).

quinta-feira, 27 de março de 2008

Desastre


Que nos tenham deitado o edifício da universidade abaixo eu até entendo. Há-de vir um novo, e bem fazia falta. Só vou ter saudades da cantina.

Agora que deixem neste estado o Knolle, o local onde todas as recordações acabam por ir ter quando penso em Leipzig! Nenhuma notícia da cidade me podia ter deixado tão histérico, triste e impotente como agora. E não há nada que consiga substituir o nosso ponto de encontro de todas as noites, onde se bebia cerveja por 1.30 eur, e se convivia com as mais estranhas figuras que aquela cidade podia oferecer. O Knolle acabou. Acabou. E eu não me conformo. A minha casa na Alemanha vai desaparecendo, e eu não estou lá para me habituar ao cenário.
(Foto roubada à página da checa mais portuguesa de todas, a nossa Teresinha, aqui, que deve ter ficado em choque ao testemunhar aquela realidade ao vivo e a cores há alguns dias.)

sábado, 22 de março de 2008

Na mesinha de cabeceira


Sim, sou parcial. A vida na Alemanha é a melhor fonte de inspiração para a literatura. A melhor literatura.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Exkolax Xungax


O país assiste em todos os jornais televisivos ao vídeo de um minuto e tal que mostra uma aluna de 9º ano numa acesa luta com a professora de francês, em plena sala de aula, no Carolina Michaelis, no Porto, e fica alarmado. A notícia é dada como se finalmente se tivesse descoberto a verdadeira escola portuguesa, o dia-a-dia de todos os alunos deste país.
Leio na imprensa de hoje que "a docente chama-se Joaquina, está no topo da carreira e regressou este ano à escola, após vários anos a desempenhar funções como coordenadora do Parlamento Europeu dos Jovens". Coincidência ou não, este episódio, que vários professores já tomaram como exemplo do que lhes acontece todos os dias (a saber da veracidade da frase), é protagonizado por uma docente sem experiência dentro da sala de aula nos últimos anos, que seria, como toda a gente sabe, essencial para perceber a nova população escolar do nosso país.
Também é imperativo ter em atenção este factor, que a ser verdade confirma as minhas expectativas: "Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar. Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também." Ora, tendo em conta estas informações, eu diria o seguinte:

1 - a esmagadora maioria das pessoas que assistiram ao vídeo já estudou numa escola pública alguma vez na vida. A minha pergunta é: alguém se lembra de ter assistido a alguma cena deste tipo ou de ter frequentado uma turma em que achasse provável que uma cena deste tipo acontecesse? Eu, nem como aluno, nem como professor, assisti a nada que se pareça, nem concebo que nenhuma turma que eu conheça ficasse contente, a rir-se e a filmar uma cena destas na sala de aula. Tendo o professor que retirar o telemóvel a uma aluna, e começando um desacato deste tipo, a reacção do resto da turma seria de medo e apreensão, quanto mais não seja pela atitude que o professor pudesse tomar ao enfrentar uma tão brutal falta de educação. Com isto quero dizer que é demagógico e ingénuo fazer deste vídeo um retrato da escola portuguesa. É como filmar o dia-a-dia da Cova da Moura e dizer que aquilo é o estilo de vida português.

2 - a reacção da aluna, tratando a professora por tu ("Dá-me o telemóvel já!"), é reveladora tanto da falta de respeito que a aluna tem à professora e ao papel que ela desempenha na sua formação, como da sua extrema má-criação e provável situação de impunidade em situações anteriores. Os alunos que se riem e o aluno que filma, e que chama "velha" à professora e "gorda" à colega, também não são diferentes dela. Se os alunos acham que estando numa aula podem fazer isto, e com "isto" incluo: rirem-se de uma luta professora-aluna por um telemóvel que não pode ser usado na sala de aula, filmarem a cena, não ajudarem a professora, etc - se acham que podem fazer isto, repito, é porque alguém lho permitiu até agora, e não tenho a menor dúvida de que assim seja. A professora veio este ano dar aulas, como se lê acima, e isso não pode ser ignorado, já que é essencial saber estar numa sala de aula, com o que isso implica em termos de domínio de turma, e não só ter muitos conhecimentos da área científica que se ensina. Ora, uma professora que conhece bem a turma a que lecciona não se envolve numa luta deste género na sala de aula. O que a professora fez foi grave. Mostrou aos alunos daquela turma que é capaz de ser como eles, tentando a qualquer custo aplicar uma autoridade que, paradoxalmente, mostra não ter, já que a aluna andou como bem quis pela sala atrás dela, a reivindicar o telemóvel que tanto lhe faz falta, bem como os alunos que estavam mais importados em assistir à cena do que em resolvê-la.

3 – A questão aqui é a seguinte: se a miúda não passa de uma mal educada, e que com certeza não teria problemas em fazer uma cena destas com os papás, e se a professora demonstra não ter sentido do ridículo para transformar uma má atitude numa feira dentro da sala, qual a solução que a escola prevê para situações deste tipo? É que me preocupa que as pessoas reduzam a solução a uma simples frase do tipo “não há solução. Os alunos são coitadinhos e podem fazer o que querem sem que nada lhes aconteça.” Ora, isto é mentira, e, provavelmente, a professora em causa pensa assim, e, talvez por achar que os meios que tem à disposição são inúteis, é que deixou a situação chegar a este ponto. Efectivamente, a professora não pode dar uma bofetada à aluna, nem pegar numa régua e exigir que ela lhe estenda a mão. Tenho a certeza que o país todo se lembrou desse tipo de educação ao ver o vídeo. O mesmo país que sairia à rua para protestar contra este tipo de educação fascista e autoritária. As sociedades têm que saber o que querem, e conhecer o sistema político que as rege e que lhes traz grandes benefícios mas também desafios. A democracia não pode ser muito bonita só porque trouxe um melhor nível de vida e liberdades que antes eram castradas. A democracia trouxe, no caso da escola, um sistema de ensino que visa integrar todos os alunos, e que, por isso, não pode esperar que os alunos sejam todos iguais e automaticamente preparados para a vida em sociedade. Se assim fosse, a escola fechava as portas. Se o professor acha que só tem que saber a sua área científica está enganado. Se o professor acha que não tem que lidar com situações complicadas e que não tem que aprender a resolvê-las está enganado. E há com certeza muitos professores que se rirão da colega que aparece no vídeo, e que são aqueles que não vão para os blogues e sítios de notícias dizer que também são violentados pelos alunos, escondendo-se no anonimato.
Assim sendo, a professora tinha 3 opções, nenhuma delas prevendo a arena que acabou por se montar: 1-deixava a aluna sentar-se, dando-lhe o telemóvel, prometendo um processo disciplinar que entregaria ao director de turma, e que seria do conhecimento dos pais; 2-expulsava a aluna, enviando-a para uma sala de estudo, e fazendo tudo o que está escrito no ponto 1, relativo ao processo disciplinar; 3-interrompia a aula por não haver condições para a prosseguir, levando a aluna, fosse sozinha, ou, se não o conseguisse, pedindo a ajuda de um funcionário (para isso é que eles estão em grande número dentro dos pavilhões), ao Conselho Executivo, para relatar o sucedido.

Este ano já tive, numa das turmas de 9º ano, um caso de participação ao director de uma turma por muito menos. Se os professores não gostam das opções que a escola lhes oferece para tratar dos problemas, então que mudem de profissão. Uma escola democrática tem que se reger por regras democráticas, e isto não significa que os miúdos sejam livres para fazerem o que querem, mas sim que os professores saibam como aplicar esta democracia. E a democracia implica responsabilidade e exigência, algo que a professora não mostrou neste caso. Só tentou mostrar que tinha mais autoridade que a miúda, o que resultou no que se viu. Se as regras que a professora poderia ter seguido não servem de nada à educação dos miúdos, então serve o quê? Este tipo de luta? Em que é que a professora se afirmou mais como autoridade, e em que é que a aluna aprendeu mais a conviver em sociedade? Alguém me explica?


Termino com as palavras de Daniel Oliveira, que não poderiam dizer melhor aquilo em que acredito:


“Ser professor é difícil. Recebem-se na sala de aulas todos as falhas familiares, todas as falhas sociais, todas as falhas do sistema. E no fim, o mais provável é ser-se maltratado por quem falha em casa, por quem falha na sociedade, por quem falha no sistema. Mas é esta a profissão que se escolheu e todas as profissões têm partes difíceis. E nesta profissão, em que se trabalha numa escola em que todos entram e têm de entrar, não se escolhem os alunos. Há, haverá sempre, casos quase impossíveis. São esses os ossos do ofício. Já havia quando eu era aluno. Para uns professores era dramático, para outros era um problema que tentavam resolver com muito talento e esforço. É difícil, mas simples: a disciplina e a autoridade nunca estão garantidos, conquistam-se. Até com os filhos.”
“A única coisa útil neste vídeo: é dar a algumas pessoas a noção de que a função de professor, sendo muito exigente, deve ser valorizada. E que quem a desempenha deve ser respeitado por isso. Mas que esta professora não sirva de exemplo. É por não estar à altura das suas funções (pelo menos neste momento) que sabemos que a profissão não é para qualquer um.”

quinta-feira, 20 de março de 2008

Fora com elas


O novo Acordo Ortográfico deveria conter um artigo que prevesse a proibição ou o bloqueio tanto oral como escrito de palavras/expressões da língua portuguesa, que, por serem usadas tão indiscriminadamente, moldam as cabeças da sociedade portuguesa, e logo as suas acções, e logo a sua história. Inauguro de seguida uma lista onde também aproveito para incluir palavras que são simplesmente feias a nível estético:
1 - esperança
2 - crise
3 - Deus queira que
4 - transeunte
5 - açambarcar
Aceitam-se mais sugestões.

quarta-feira, 19 de março de 2008

'Im so tired of you America'

Faço minhas as palavras de Rufus Wainright neste "Going to a town".

O cantor actua na Casa Das Artes de Famalicão, nos dias 28 e 29 de Junho. Quem souber quando é que os bilhetes são postos à venda, que me avise.

terça-feira, 18 de março de 2008

A cruz alemã


"A Shoah enche os alemães de vergonha".


Angela Merkel hoje no Parlamento Israelita

domingo, 16 de março de 2008

Laibach no Theatro Circo




Esta é a banda que diz ser a versão Rammstein para adultos. Provocadores, são odiados tanto pela esquerda como pela direita. São eslovenos, mas cantam maioritariamente em Alemão (Laibach é o nome da capital eslovena - Liubliana - em Alemão). Existem há mais de 20 anos, e são uma das principais influências de Rammstein.
Eu diria que é ao contrário, eles é que são Rammstein para adolescentes, já que as letras não dizem nada senão ambíguas mensagens humanistas-nacionalistas-militaristas, não se percebendo muito bem qual é afinal a ideologia que defendem, se é que a têm. E para não falar que se limitam a anáforas constantes, repetições de espécies de slogans acéfalos, que fazem lembrar as músicas mais parvinhas que os Rammstein se lembraram de escrever (e que se limitam a meia dúzia, e maioritariamente no início da carreira). E quanto à música, remeto para aqui, e quem conseguir aguentar até ao fim que me avise. Algures durante o vídeo lê-se no ecrã por trás "Faschismus" (Fascismo) e depois "Roter Anarchie" (Anarquia Vermelha), o que já diz muito sobre aquilo que ganem o concerto inteiro. (Ah, e aceitam-se todo o tipo de comentários às criaturas laracroftianas a tocar tambor).

sábado, 15 de março de 2008

Línguas malditas

Não, este não é mais um post sobre idiomas ou outras coisas linguísticas, mas sim aquilo que poderá vir a ser a designação para as línguas (as literais, físicas, onde sentimos o paladar) que tenham piercings lá enfiados. Segundo a notícia que por aí corre, o PS entregou no Parlamento um projecto de lei que pretende proibir os piercings na língua. Citando um dos comentários à notícia, na página online do Público, "Vão fazer o quê? Obrigar-me a mostrar a língua nas operações stop?" (João Sá).
Excesso de higiene ou tentativa de nos pôr todos iguais? É que alguém a fumar ao meu lado pode prejudicar a minha saúde. Entendo e apoio a proibição. Não tenho a certeza se falar com alguém com uma língua com piercing me faria algum mal... Ou este projecto já estará a prever os danos causados na saúde pública pelos beijos (franceses) a pessoas com piercings?
Então e as pessoas porcas, cheias de piolhos, barbas feitas ninhos de micróbios e aqueles homens que mantêm a unhaca do dedo mindinho com o triplo do tamanho das restantes - para essa gente não há leis? Uma pessoa porca em frente a nós numa fila de uma qualquer repartição e o cheio que dela emana parece-me bem mais incomodativo para a minha saúde do que um brinco ou um anel numa língua que eu nem tenho que ver, a não ser que a pessoa ande com a boca aberta, algo pouco provável.
Falando em bocas abertas, eu apoiaria incondicionalmente uma lei que proibisse maus hálitos!Essa sim, valeria a pena. Vou tentar chegar a proposta ao PS.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Iberices

"A Audiência Nacional espanhola vem de anular a sentença que condenava os catalães Jaume Roure e Enric Stern a pagarem 2730€ pela queima de fotografias do rei Juan Carlos I o dia 13 de Setembro, com motivo duma visita oficial deste à cidade de Girona. A razão desta anulação é que não se brindaram todas as garantias processuais aos acusados, já que o magistrado que presidiu o tribunal durante o processo, Jose María Vázquez Honrubia, não entendeu as declarações em língua catalã dos acusados."

in Portal Galego da Língua

Nova escrita em ação


Leio na imprensa de hoje que o novo acordo ortográfico foi ratificado na semana passada em Conselho de Ministros, e que novos dicionários, já com a nova ortografia, são lançados hoje. O tipo de discussão feita sobre este assunto (já desde a década de 80) revela o maior desinteresse da opinião pública em relação àquilo que não cansa de considerar a sua pátria, numa acrítica e seca imitação da frase pessoana. Exceto linguistas que debateram a questão de um modo que só lhes interessa a eles mesmos e personalidades nacionalistas preocupadas com a supremacia da ortografia brasileira, a discussão foi pobre, discreta e irrelevante, e não foi levada ao povo, aquele que aprende e usa a língua, e que, queiramos ou não, a faz evoluir, primeiramente a nível oral.
Os portugueses deveriam saber claramente que a escrita da sua língua mudou… ou não? Provavelmente sou só eu que me preocupo demasiado com estas coisas. Afinal, a mudança não é tão expressiva quanto isso, veja-se este texto que, já contemplando a nova ortografia, não magoa ninguém (exceto o meu Word, que ainda sublinha a palavra “exceto” a vermelho).

PS: o novo alfabeto português tem 26 letras (23+k/y/w).

quinta-feira, 6 de março de 2008

Só não sabem que nada sabem

Não vou entrar no circo imparável de opiniões sobre a actual polémica em relação à avaliação de professores. A mim parece-me justo e saudável que as pessoas (sim, apesar de tudo, é o que são, embora muita gente ache que são uma raça à parte) lutem pelo que lhes parece ser um golpe brutal nas expectativas que toda a vida tiveram (concordemos com elas ou não; parecendo-nos mais ou menos profissionais). Por outro lado, uma carreira profissional sem obstáculos também não é justa, não havendo selecção de quem é melhor ou pior no seu trabalho, não havendo diferenciação na avaliação de competências.
Também não ignoro que o novo estatuto da carreira docente se estrutura eminentemente a partir de critérios economicistas, e que o mérito e a excelência figuram apenas como termos bonitos que justificam um documento legal que tinha que ter uma justificação formal que não a redução de custos. Até aqui tudo bem.
Aquilo que me indigna e que me entristece no meio disto tudo não é a actuação da ministra, a redução dos salários e a impossibilidade de muitos professores de virem a chegar a um escalão para o qual tinham previsto chegar desde sempre. Não me entristece a luta dos professores, e as suas tentativas de democraticamente se oporem a medidas que (na visão deles, e à qual têm direito) os prejudicam e ao sistema de ensino. Fico contente por ver um governo a tomar atitudes, sejam elas mais positivas ou menos, e fico contente por ver uma classe de cu quadrado de tanto conformismo e excesso de regalias como a dos professores a fazerem frente às medidas do governo.
O que me entristece é a forma como alguns professores o fazem, e que demonstram que, de facto, as fraquezas que as novas medidas vêm combater existem no professorado. Regalem-se com o que tenho ouvido no meu local de trabalho:
"A ministra é uma cabra/puta/ovelha."
"Eles querem-nos foder, é o que eles querem."
"Ai eu não quero excelente, já não quero; para quê, para ter mais trabalho?"
"Oh, esses instrumentos de avaliação são para estagiários!"
"O governo e os pais não entendem que se formos avaliados pelos resultados dos alunos vamos passar a dar-lhes boas notas e a passar toda a gente, diminuindo a já pouca qualidade de ensino?"
Professores destes andam por aí. Almas sábias que se auto-congratulam por terem nas mãos a formação do país. Espécimes que reduzem essa mesma formação a uma questão de vingança e de dinheiro no bolso. É destes sábios que não tenho peninha nenhuma. É contra eles que me apetece lutar e é deles que quero proteger os futuros cidadãos do país. E ao menos numa coisa estou de acordo com as t-shirts que eles por aí levam: estou de luto pela educação.

terça-feira, 4 de março de 2008

Aus Deutschland

Tocotronic - Mein Ruin

Cinema alemão na Velha


Em Março, a Velha-a-Branca, em Braga, apresenta três filmes alemães:


Amanhã (4ª feira) - 22h - Nosferatu (1922), de F.W. MURNAU


Sem data ainda definida, a Velha passará ainda dois grandes clássicos: o documentáriio "Triunfo da Verdade", de Leni Riefenstahl, e o filme "Lili Marleen", de Rainer Werner Fassbinder.


Para quem fala alemão, o Departamento de Estudos Germanísticos promove na primeira 4ª feira de cada mês, também na Velha, um encontro de falantes de alemão, sejam eles nativos, alunos (iniciados, avançados, etc) ou gente simplesmente interessada na "língua dos pensadores e poetas".


Ver detalhes aqui.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Linguisticando (ou afreakalhando este blog)


Encontrei hoje um artigo do Prof. Álvaro Iriarte Sanromán (Prof. do departamento de Estudos Portugueses do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho) no seu blog, em que chama a atenção para um texto de Frederico Lourenço, publicado no "Valsas nobres e sentimentais", sobre os "erres" no Português:


“Manuel Alegre, Mário Soares, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã têm outra coisa em comum, além do facto de serem de esquerda. Algo de muito sonoro os distingue de Aníbal Cavaco Silva. Trata-se do som da letra “r” em início de palavra (“revolução”), com grafia dupla no interior de um vocábulo (“terra”) ou em sequências como “honra” e “guelra”. O ponto de articulação do “r” dos candidatos de esquerda é apical: a ponta da língua rola contra o palato duro, um pouco atrás daquilo a que Homero chamou “a barreira dos dentes”. No caso de Cavaco Silva, o “r” é articulado na garganta: é o som gutural de quem anuncia a intenção de escarrar. Entrou na nossa fonética por via do estrangeirismo: primeiro conquistou a classe alta por ser o “r” francês; a pouco e pouco, a classe média foi imitando; por fim, contaminou a classe proletária por ser o “r” das telenovelas brasileiras. Hoje, o “r” de Cavaco Silva é o mais ouvido no nosso país.”



Para quem não se dá bem com a terminologia linguística, o que Frederico Lourenço distingue, é o "erre" standard, que a maioria dos portugueses usa, incluindo o PR. O outro "erre" é o "erre" espanhol, mais enrolado, que também se ouve ainda muita gente pronunciar.


O texto inteiro do Prof. Sanromán sobre este assunto pode ser lido no Portal Galego da Língua. Ali ficamos a saber que, após a Restauração, a vontade de afastar o português do castelhano espelhou-se na aproximação à língua francesa, mantendo-se até aos dias de hoje as diferenças de pronúncia de certos sons na língua portuguesa, como é o exemplo do "erre". Estas diferenças notam-se mais entre o português falado a norte, e o lisboetês (palavra que os galegos usam para o português de Lisboa, que lhes parece estranho).


PS1: freaks da linguística, acusem-se! Estou farto de ser só eu a interessar-me por estas questões.
PS2: clicar na imagem acima para entrar no maravilhoso mundo da fonética.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Zero feeling

E há dias em que acordamos e nada no mundo parece fazer sentido.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

EMILY HAINES - Dr. Blind

FIONA APPLE - Never is a Promise

BETH GIBBONS - Mysteries

HOWLING BELLS - Broken Bones

Dark mood, dark ladies

BAT FOR LASHES - Trophy

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

É só inveja

"President Sarkozy dating former supermodel Carla Bruni". CNN

Suponho que soa mais apelativo dizer que um homem tão aparentemente rigoroso e exigente como Sarko resolveu enrabichar-se por uma ex-modelo (logo, uma pessoa com certeza descomprometida com a inteligência), mas nem a CNN escapou à estupidez de reconhecer Bruni apenas como ex-modelo, esquecendo-se que depois disso, bem mais interessante, ela se tornou cantora?
Confesso que morro de inveja de Sarko, mas é porque tem esta voz a cantar-lhe esta música ao ouvido quando bem quiser.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

...

Pela primeira vez desde há muito o tempo escuro e a chuva estão a deixar-me deprimido. Acrescente-se a isto uma gripe e uma vontade imensa de me trancar num quarto, agarrar-me a uma almofada, cobrir-me com os lençois, e não ter que enfrentar ninguém que me peça coisas para fazer.





Quem me manda a mim sair daqui? O regresso é sempre penoso. E eu nunca aprendo.




Este sítio faz-me mal.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Há pessoas fantásticas, não há?


Passo uma semana em Inglaterra, e uma miúda belga do mais simpático que há, com quem estive muito pouco tempo, consegue reproduzir a minha cara de maneira tão fiel. Quem me conhece que o diga.


Danke, Janine! :)
PS: a boca não está exagerada, é mesmo o efeito do aparelho. Até isso está perfeito!