quarta-feira, 7 de maio de 2008

A lição


Faz hoje uma semana que Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, visitou a nossa escola, a convite de uma professora de Português de quem é amigo pessoal.

Fernando Ribeiro surge sereno, senta-se tranquilamente olhando a audiência de dezenas de miúdos à espera que dissesse as coisas mais extraodinárias que pensariam ouvir alguma vez no recinto escolar. À sua frente tem uma garrafa de água que confessa ser a bebida predilecta durante o dia, e refere o quão indispensável ela é para a saúde da sua garganta.

Fernando Ribeiro começa a falar, diz as coisas acertadas para um homem da sua geração e modo de vida que leva: quem idolatra, quem gosta de ouvir e ler, fala de Parménides e da pena que sente por já não se estudarem os filósofos pré-socráticos, fala de Kant e Nietzsche, e diz que a profissão com que sonhava era a profissão docente. Que era um rebelde estudioso, que todos sejam rebeldes estudiosos. Que estudou filosofia, mas que o estilo de vida que levava não os deixava dedicar-se o suficiente.

Fernando Ribeiro defende que os telemóveis sejam deixados à porta da sala de aula numa "bolsa dos valores", lê o primeiro poema que escreveu na folha amarrotada onde o escreveu originalmente e que o acompanha nas apresentações dos seus livros de poesia.

No início um grupo de alunos faz uma encenação de um dos seus poemas, um jogo de sombras, uma voz que se ouve, outra que quase não se ouve.

No fim, Fernando Ribeiro faz a ante-ante-estreia do novo videoclip dos Moonspell.


A tudo isto os alunos assistem serenos e sem ripostar. Estivemos naquela sala durante 2 horas.

O homem não disse nada de extraordinário. Simplesmente demonstrou ser culto, saber do que faz, entender imensamente de música e comprender perfeitamente "quem ouve estilos de música diferente e quem ouve metal e depois começa a ouvir transe".


Se houve alguma lição que Fernando Ribeiro deu, foi a da tolerância, a da serenidade, e a da necessidade de originalidade e vontade de ser diferente em detrimento da mera cópia de modelos.


Os mesmos alunos que fizeram o teatrinho inicial foram os mesmo que ouvi na fila atrás da minha chamarem filhos da puta aos que, "como Fernando Ribeiro disse", mudam de um dia para o outro de metal para transe.


Sem comentários: